literatura, política, cultura e comportamento.
seja em santa maria, em alegrete, no rio de janeiro, em osório ou em liechtenstein.
na verdade, tanto faz.

29 de setembro de 2009

Religiosidade

"São Miguel Arcanjo," 1615, por Luis Juarez, México. Óleo em madeira - 67-3⁄4 x 60-1⁄4, Museu Nacional de Arte/INBA, Cidade do México.

Estava hoje pela manhã levando o Miguelzinho para a creche, caminhando de mãos dadas sob o sol, quando ao nosso lado uma senhora surgiu tecendo elogios ao menino, comparando-o a um anjinho. Ao responder qual era o nome dele, essa senhora perguntou se ele fazia aniversário, pois é dia de São Miguel Arcanjo. Revelei que ele não era aniversariante, e confessei que não sabia da data do santo anjo. E assim ela começou a falar da hierarquia entre anjos e arcanjos, e da importância de Miguel, Gabriel e Rafael para o projeto divino. Como também conheço as passagens bíblicas, complementava a conversa.

(Pausa para falar da minha posição a respeito da religião: Não me considero um ateu, embora cada vez mais me seja difícil a crença no sistema cristão, que reproduz no além o modelo de sociedade terrena. Pois bem: o ateu (generalizando) desdenha a religião justificando-se no acaso e apegando-se à ciência. Ora, isso tende a transformar o Acaso em entidade demiúrgica, e o discurso científico em dogma. Ou seja, me é insuficiente. O fato de não me apegar à idéia da existência de deus não quer dizer que também duvide da sua existência. O mundo não se resumiria apenas ao que é visível, ou se uma forma geral, perceptível aos sentidos: haverá uma parte visível e outra invisível, uma concreta e passível de racionalização, e outra para qual predomina o mistério. E, sendo mistério, me é impossível seguir adiante e tentar revelá-lo. O inexplicável deve manter-se inexplicável, não como alienação, mas como forma de fugir das tentativas de explicar o que é inexplicável, sob o perigo de cair em representações frágeis, insinceras e manipuláveis. Se confuso? Confesso que estas não são posições estanques e de modo algum definitivas, e por vezes contraditórias. E lógico que a minha formação católica por vezes fala mais alto. Como fruto desses valores, que revelam quem sou, apagar a minha formação seria apagar parte de mim próprio e de minha história).

Assim, essa senhora falava da importância de Gabriel como arcanjo anunciador, Rafael como arcanjo responsável pela cura (sempre gostei do livro de Tobias) e Miguel como o arcanjo guerreiro. Assim, como é próprio do discurso místico-religioso, ela trazia esses significados em torno do homônimo de meu filho para o seu futuro. Por mais que se acredite ou não nessas abordagens, deve-se considerar sobretudo que elas revelam um tal grau de simpatia, que é capaz de transmitir afeição gratuita a desconhecidos. Gosto disso.

Até que, próximo à esquina em que seguiríamos caminhos diferentes (a encruzilhada, sempre significativa) ela reiterou que o nome do Miguel não era gratuito. E a ele estaria previsto o papel de instrumento de paz nesse mundo no qual se está perdendo valores. Nesse momento minha resposta foi o mais sincera possível; não que não eu tivesse sido sincero antes, mas a minha busca maior sobre perguntas do que sobre respostas me encabula diante de tamanhas convicções religiosas. Respondi-lhe que sim, que ele haveria de ser um instrumento de paz, como cada um de nós é: todos nós temos responsabilidades sobre o mundo que moldamos. Ela concordou. E eu deixei marcada com isso a minha posição política.

26 de setembro de 2009

De tudo um pouco, quase nada...



Peço desculpas aos amigos que acompanham o Blog do Berned. Planejando o futuro: as conturbações da vida particular e profissional têm me ocupado ao ponto de não conseguir postar nada nos últimos dias. Paradoxalmente, isso pra mim acaba sendo uma coisa boa. Paradoxalmente.

Nesse meio tempo: Yeda queimada ao quadrado: tanto em relação ao impeachment, quanto literalmente. Acampamento crioulo no parque da Harmonia causa pânico nos que brincavam de gauchinho, pois faltou luz na primeira noite. Desdobramentos do golpe em Honduras, com o envolvimento do Brasil na defesa pela legalidade. Até agora nada a respeito do assassino do sem-terra morto em São Gabriel. Maior relevância da candidatura de Ciro Gomes, que se promete alternativa à esquerda governista que pode vir a se sentir incomodada em dividir o palanque com o PMDB. Fomos à Porto Alegre e ao Alegrete, e na capital fizemos parte de um encontro memorável entre o autor desse blog com os autores do Maico sem N, Igor de Fato e o esperado Inquietações da Taise (a ser lançado em breve) na esquiva chuvosa comendo pizza em cone. Graças a nossa amiga Guada, finalmente experimentamos guacamole. E faz pouco recebi o livro Literaturas Invisíveis, editado pela UFMS, que tem um artigo meu sobre Paulo Coelho. Tem mais coisas para entrarem nessa lista, mas por enquanto as minhas atenções estão voltadas para a relação entre estética e ideologia nos últimos textos de Marguerite Duras. Sorry.

Portanto, conjecturas a não serem desenvolvidas hoje:

Mise-en-abîme:
Por que em novelas é sempre difícil encontrar algum personagem vendo TV?

Alexandre Garcia saudoso (?):
"... o presidente Lula se referiu hoje ao que chamou de golpe em Honduras..."

Volta às aulas em Santa Maria:
A ATU tem algum contrato estabelecido com a rádio Medianeira?

Cruzados de Tegucigalpa:
Qual o papel da Igreja Católica no golpe de Honduras? (hein?)

Vice da Dilma:
Geddel, Temer ou quem?

Marcelo Tas:
Será que mais ninguém se atina a entender a piadinha dele bem no finalzinho do vídeo acima?