literatura, política, cultura e comportamento.
seja em santa maria, em alegrete, no rio de janeiro, em osório ou em liechtenstein.
na verdade, tanto faz.

12 de dezembro de 2011

Facebookiando despedidas

Quero, de coração, agradecer aos amigos que fiz em Niterói nesse um ano que estive por aqui, pela companhia e pelos momentos que estivemos juntos. Vou embora com muita alegria por tê-los conhecido, de mesmo modo que volto feliz pra casa, onde a Taise e o Miguel me esperam. Também agradeço aos demais amigos, que fiz por onde passei, pelas incomensuráveis demonstrações de amizade, sobretudo pela espera silenciosa que é a expectativa em nos reencontrarmos em breve. Às famílias, o meu agradecimento pela confiança e incentivo para que essa fase fosse cumprida. A todos, com certeza, nos veremos em breve, meus amigos!

4 de novembro de 2011

Minha redação enquanto secundarista

Em meio às arrumações da mudança, achei o seguinte diálogo, escrito em alguma aula de português do meu primeiro ano na Escola Rural de Osório. Apesar dos (poucos) poréns que eu (hoje) teria com o texto, acho-o engraçado ao poder considerá-lo como uma forma de olhar para mim mesmo naquela época da vida, dos meus 15 anos, da ameaça da ALCA, das crises do neoliberalismo que o país sofria... Hesitei um pouquinho, mas ainda assim resolvi dividi-lo com os amigos! 




Além do mais, é com certo carinho que enxergo, entre outras coisas, aquele "ultilíssimo" da terceira página...

11 de setembro de 2011

O terceiro gol de Leandro Damião

Recém havia ligado a imagem do jogo. Já estava acompanhando pelo rádio, imaginando o grande jogo lá e cá entre o Palmeiras e o Internacional. O Inter vencia por dois a zero, em pleno Pacaembu. A torcida palmeirense estava de costas para o gramado no momento em que comecei a ver o jogo. Provavelmente não viram o que eu vi. Eu conversava com os guris aqui em casa, quando vi o Ilsinho, há pouco em campo, lançando a bola para o Damião lá na frente. Quando vi o Damião vencer o zagueiro no corpo, passar pelo Marcos e ainda se permitir a uma gracinha antes do gol, eu comecei a gritar. Gritei enlouquecidamente, freneticamente, até comprometer a voz. Gritei num gozo catártico, como se o esporte bretão tivesse sido criado, e se desenvolvido no Brasil, para esse momento. Como se todo o universo futebolístico tivesse existido para aquele momento. O Inter não teve a melhor de suas apresentações, apesar da vitória por goleada. O Inter ainda está longe dos líderes do campeonato. Mas esse gol... Esse gol!

7 de setembro de 2011

Uma coisa que leva a outra e, por sua vez, a outra, e a outra...

A propósito, inicialmente, do vídeo intitulado EL EMPLEO:


A leitura do conto “O arquivo” [1], de Victor Giudice (indicado pelo André Cruz, realizada no vídeo pelo Antônio Abujamra) me remete (como não poderia deixar de ser) ao "Operário em Construção" [2], de Vinícius de Moraes, que, em contraposição ao protagonista de Giudice, disse NÃO. Baixar a cabeça - calar e, portanto, consentir - também é tema de "Casa tomada", de Cortázar [3] e de poemas de Maiakóvski [4] e de Brecht [5]. Quando a resignação do espírito - do operário - é aproximada das relações de trabalho, evidencia-se a lógica da produção e do capital, nada humanizadora. Assim, dizer não é contrapor-se a essa lógica, seja pela manutenção de direitos conquistados, seja no avanço para a construção de uma sociedade cada vez mais justa e igualitária. E, se a literatura propõe-se a construir universos paralelos a partir de situações hipotéticas, que nos permite uma identificação – embora com certo distanciamento – ao olharmos no espelho, o que percebemos, senão as nossas próprias contradições e as contradições da própria realidade que nos circunda?

[1]


[2]


[3]


[4]
Na primeira noite, eles se aproximam e colhem uma flor de nosso jardim.
E não dizemos nada.
Na segunda noite, já não se escondem, pisam as flores, matam nosso cão. E não dizemos nada.
Até que um dia, o mais frágil deles, entra sozinho em nossa casa, rouba-nos a lua, e, conhecendo nosso medo, arranca-nos a voz da garganta.
E porque não dissemos nada, já não podemos dizer nada
. (Maiakóvski)

[5]
Primeiro levaram os negros
Mas não me importei com isso
Eu não era negro
Em seguida levaram alguns operários
Mas não me importei com isso
Eu também não era operário
Depois prenderam os miseráveis
Mas não me importei com isso
Porque eu não sou miserável
Depois agarraram uns desempregados
Mas como tenho meu emprego
Também não me importei
Agora estão me levando
Mas já é tarde.
Como eu não me importei com ninguém
Ninguém se importa comigo
. (Bertold Brecht)

21 de agosto de 2011

so happy together


Ao mesmo tempo em que dizia um eu te amo inaudível pelo ruído do motor, ele molhou a ponta do dedinho com cuspe e desenhava alguma coisa para mim do lado de dentro do vidro do ônibus... Somos tão felizes quando estamos juntos, mas sempre soubemos que hora ou outra as nossas escolhas nos arrebatariam... Ela disse que essa última semana passou como se fosse um ano. É verdade. Hoje, estamos, cada um dos três, indo para lados diferentes. Por um lado estou muito triste, mas por outro sei que isso é por pouco tempo. Certa vez, com muita sabedoria, ela me disse que ele é a coisa mais importante para nós, mas não é a única... Hoje sei que, independente nos nossos anseios pessoais, mesmo os de cinco anos atrás, só podem ser pensados enquanto "nossos", ainda que estejamos indo cada um para um lado...

Na certeza de que será por muito pouco tempo.

Logo, logo, nós três juntos novamente.

"E até lá, vamos viver... temos muito ainda por fazer, não olhe pra trás... O mundo começa agora: apenas começamos..."

18 de agosto de 2011

Por enquanto

Com a chave na mão
quer abrir a porta,
não existe porta;
quer morrer no mar,
mas o mar secou;
quer ir para Minas,
Minas não há mais.
José, e agora?
(Drummond)

Sabe aquela certa falta de pertencimento a algum lugar? Imagino que seja próprio de uma parcela da juventude da minha geração. Nasci em um lugar, cresci em outro, fui estudar em outro. Sem nunca me sentir propriamente parte de algum desses lugares, mas tendo a casa dos pais como o refúgio, minha mãe não mora mais na cidade onde estudei e conheci os amigos da adolescência. Para tentar ser claro, uso o título eleitoral como exemplo: onde votar para prefeito, para vereadores? Nesse sentido mais específico, há tempos me sinto esse jovem errante, sem rumo certo.

“Se lembra quando a gente chegou um dia a acreditar que tudo era pra sempre, sem saber que ‘pra sempre’ sempre acaba?” Desde os meus dezesseis anos tenho esses versos de Renato Russo cantados por Cássia Eller na minha cabeça. Essa descoberta nos desterra, nos questiona sobre nosso passado e o nosso futuro, sobre quem somos e o que queremos. Há tempos quero sair daqui. Porém, na iminência de mudança, me vem à cabeça o que se deixa para alçar novas oportunidades. “Mesmo com tantos motivos pra deixar como tudo como está... Nem desistir, nem tentar: agora tanto faz. Estamos indo de volta pra casa...” O impasse é que, ao contrário da música, não há mais casa para voltar. Os laços são com a família que, mesmo longe, é sempre o nosso porto seguro; e são com os amigos distantes (ou às vezes, nem tão distantes assim), mas sempre presentes nas comemorações e nas tristezas, ligados pelo telefone, pela internet e pelas rotas de ônibus e avião.

O inquietante é mesmo a desterritorialização. A casa, o terreno, a rua, os vizinhos... Os colegas de jardim de infância, dos primeiros anos de escola... Penso nos meus queridos vizinhos da minha infância na rua Marechal Deodoro; tantos caminhos, quantos descaminhos, alguns tenho amizades sólidas até hoje, mas onde estarão todos? Hesitar em relação às mudanças? Temos esse direito para conosco e para com aqueles que nos importamos e somos importantes? Penso que justo agora (e esse agora não se refere a um tempo específico, mas sempre a esse instante que se reatualiza como uma correnteza) deixaremos isso que nunca nos consideramos parte, até a iminência da mudança. Penso nos trajetos que fazemos todos os dias, as pessoas que encontramos, os vizinhos, os donos da padaria e da loja de utilidades da esquina, as moças do mercado e da farmácia, os rapazes da ferragem, as professoras e as crianças da escolinha, as casas e as calçadas exploradas dia após dia pela criança que descobre o mundo por esses trajetos; penso no chalé em que moramos, nas suas inúmeras qualidades e nos seus poucos problemas, nos amigos que aqui recebemos e que, juntos, tivemos momentos inesquecíveis. E, de uma hora para outra, o turbilhão do futuro nos arremessa daqui. Dizer não, justo depois de tanto nos esforçarmos para conseguirmos?

Mudanças implicam dificuldades na reorganização. Às vezes, o motivo pode ser ruim; não é o caso. A mudança vem por uma novidade muito boa. Mais sorte que juízo, diz ela. Mas sem competência, de nada adiantaria a sorte, digo eu. O momento é dela, o sucesso é dela, com todos os louvores. Estou feliz, sinto orgulho dela. Preocuparmo-nos com as mudanças e as dificuldades, sim; hesitar, jamais. Se vai ser mais fácil ou mais difícil? Os desafios com certeza serão maiores, bem como as responsabilidades. Mas quem já passou pelo que nós passamos – e o que ela passou, com todas as vitórias acumuladas – tiraremos de letra. E em breve na nossa futura moradia, haveremos de receber os amigos que acumulamos por onde passamos. E por onde haveremos ainda de passar.


Diga não em Porto Alegre!

Ainda este mês vocês podem conferir, em Porto Alegre, o espetáculo teatral "O Dia em que Aprendi a Dizer Não", sob atuação do ator e meu amigo Maico Silveira (do blog "Maico sem n"). Pelas palavras do "Casa XV", "o cerne do trabalho consiste em agregar elementos plásticos do trabalho do ator, baseado essencialmente na utilização de técnicas oriundas do mimo corporal e do futebol como estilo livre, a uma temática e estética que reflitam as inquietudes de nossas vidas cotidianas". Ou ainda, conforme a divulgação no Brasília Agenda, é "um espetáculo humorado, irônico e sem concessões às peculiaridades do homem na atualidade, de sua contemporaneidade e de seu embate com os conceitos, preconceitos e dogmas da sociedade". Se estiver pela capital gaúcha, não deixe de comparecer para conferir; ou recomende para quem estiver por lá!


peça: O dia em que aprendi a dizer NÃO
site: http://odiadonao.blogspot.com/

direção: Camila Bauer
atuação: Maico Silveira
texto: Pablo Berned e Maico Silveira
Trilha sonora original: Leonardo Dias
Produção: Colectivo El Sótano [http://colectivoelsotano.blogspot.com/]

local: IAB - Instituto de Arquitetos do Brasil (General Canabarro, 363, esquina com Riachuelo - Centro, Porto Alegre)
horário: TERÇAS, QUARTAS E QUINTAS, 20h.
ingressos: R$ 20 e R$ 10
Somente até 25 de agosto.

9 de junho de 2011

Como é possível manter a individualidade num mundo pleno de exigências, convenções e incertezas?


Estreia, neste final de semana em Brasília, o espetáculo teatral "O Dia em que Aprendi a Dizer Não", sob atuação do ator e meu amigo Maico Silveira (do blog "Maico sem n"). Pelas palavras do "Casa XV", "o cerne do trabalho consiste em agregar elementos plásticos do trabalho do ator, baseado essencialmente na utilização de técnicas oriundas do mimo corporal e do futebol como estilo livre, a uma temática e estética que reflitam as inquietudes de nossas vidas cotidianas". Ou ainda, conforme a divulgação no Brasília Agenda, é "um espetáculo humorado, irônico e sem concessões às peculiaridades do homem na atualidade, de sua contemporaneidade e de seu embate com os conceitos, preconceitos e dogmas da sociedade". Se estiver por Brasília, não deixe de comparecer para conferir; ou recomende para quem estiver por lá!


peça: O dia em que aprendi a dizer NÃO
site: http://odiadonao.blogspot.com/

direção: Camila Bauer
atuação: Maico Silveira
texto: Pablo Berned e Maico Silveira
Trilha sonora original: Leonardo Dias
Produção: Colectivo El Sótano [http://colectivoelsotano.blogspot.com/]

local: Espaço Cultural 508 Sul - Sala Parangolé - Brasília - DF
horário: sexta e sábado às 21 e domingo às 20h
ingressos: R$ 20 e R$ 10

30 de abril de 2011

"As revistas, as revoltas, as conquistas da juventude são heranças, são motivos pras mudanças de atitude"


Os meios de comunicação no Brasil propõem (ou impõem?) um certo modelo comportamental de jovens, em tese calcado no estereótipo Malhação, talvez por entenderem a juventude como "uma banda numa propaganda de refrigerantes", como canta Humberto Gessinger. O vídeo de Felipe Neto, que você vê aqui, rejuvenesce a discussão sobre os impostos no Brasil, mas por uma perspectiva já caduca, reducionista, limitada, ou seja, mais do mesmo. Embora ele não diga, ficamos com a impressão, ao final do vídeo, que ele poderia muito bem ter tirado a seguinte conclusão: "esse dinheiro que o governo dá pra pobre comer, que oferece para pobre se qualificar e poder mudar de vida, esse dinheiro poderia servir para eu ficar jogando videogame". Estou errado na minha leitura?

Diante disso, a reflexão do Marcelo Parreira é extremamente pertinente. Destaco a seguinte passagem: "O que prejudica a aplicação dos nossos impostos, tanto quanto os desvios que devem ser combatidos, são os problemas estruturais. Nossa legislação tributária consegue ser ao mesmo tempo redundante e falha, nossa fiscalização para evitar a sonegação só começou a melhorar recentemente, setores importantes são bitributados, entre outros problemas. Mesmo assim, a famosa reforma tributária nunca engrenou por um misto de miopia dos governos estaduais, preguiça do governo federal e desinteresse do Legislativo. Isso sim merecia uma revolta e protestos, mas quem quer se arriscar em um assunto complexo como esse quando você pode simplesmente maldizer os políticos e babar pelos cantos?"
http://oopinioso.wordpress.com/2011/04/28/porque-felipe-neto-esta-errado/

Em relação ao texto completo de Parreira, acrescentaria o seguinte ponto:
 

No começo do vídeo, Felipe Neto já sobe nas tamancas: "Tá na hora de mostrar para essa porra de governo que a gente voltou a ter força para lutar pelo que é justo. Tá na hora de definir de vez que quem manda nessa porra aqui é a gente. Preço justo nessa porra já! Desde a época da ditadura que a juventude brasileira se calou. Toda a porra de dia a gente ouve notícia e mais notícia sobre corrupção, sobre aumento de salário de político, sobre zona com o dinheiro público". Não quero dizer, ao criticá-lo, que não haja problemas no país, mas não podemos cair em reducionismos hipócritas e em equívocos. Só no trecho destacado, poderíamos lembrá-lo do Fora Collor (como se fosse um ato isolado pós-ditadura!) e atualizá-lo sobre o debate importante e necessário sobre a democratização da informação (e sua crítica aos interesses e qualidade das grandes empresas midiáticas).

Não vou me estender sobre a dimensão dos movimentos políticos estudantis no Brasil, sobretudo das forças (em constante embate) que compõem a UNE, a UBES e a ANPG, ou dos movimentos sociais, dos movimentos de jovens trabalhadores, dos centros de cultura, da organização em partidos, ONGs, igrejas... Gostaria de retomar, em relação a esse assunto, o movimento contra a ALCA entre final dos anos 90 e início dos 2000, protagonizado pelos estudantes, e que se baseava exatamente no oposto desse #precojusto, "fácil discursinho pequeno-burguês":

"A possível criação da Alca é motivo de preocupação tanto para os países subdesenvolvidos (a maioria) quanto para os desenvolvidos (Canadá e Estados Unidos). Esse bloco visa estabelecer uma zona de livre comércio no continente americano, onde as tarifas alfandegárias seriam, paulatinamente, eliminadas, proporcionando, assim, a livre circulação de mercadorias, capitais e serviços. Entretanto, a livre circulação de pessoas e trabalhadores entre os países integrantes não seria permitida, pois o idealizador da Alca (EUA) não pretende intensificar a entrada de latino-americanos em seu território."
http://www.brasilescola.com/geografia/alca.htm

Com a ALCA, teríamos o tal cenário em que os produtos importados dos Estados Unidos e do Canadá seriam praticamente livres de imposto sobre importação. Os países “ricos” dominariam o capital industrial, e os “pobres” da América Latina assumiriam de vez o papel de coadjuvantes, restritos à atividade primária (mas com produtos de marca e originais nas prateleiras “livres de impostos”). O grande problema nesse cenário seria a situação do Brasil, e provavelmente da Argentina e do México. Não se trata de fazer suposições evasivas, mas pesquisar o impacto que houve na economia mexicana a partir do NAFTA. Países de industrialização ascendente, sofreríamos (mais) com a procura das empresas estrangeiras pelo “baixo custo”, só que sem barreiras protecionistas que permitissem o fortalecimento da economia nacional. Em miúdos, a América Latina seria uma neocolônia norteamericana, presa pelos limites do Bloco Econômico; ao contrário da cooperação do MERCOSUL, que alavanca a expansão da nossa economia com a Europa, o Oriente Médio, a África, Rússia, China, Japão... O debate não seria sobre o imposto malvado que encarece o DVD do Harry Potter, mas ainda sobre questões de soberania nacional, dívida externa, arrocho salarial, desemprego, futuro... (tipo anos 90?).

-- -- --

E, ainda, sobre o protagonismo ATUAL da juventude, transcrevo um trecho que gosto muito, destacado de uma entrevista da Deputada Manuela D'Ávila (PCdoB/RS):

Sul21 – Tu comentaste há pouco sobre a tua trajetória no movimento estudantil. Como tu avalias o grau de politização do jovem brasileiro em geral, e do movimento estudantil em particular?

Manuela – Em primeiro lugar, eu acho que muitas vezes as pessoas caem no erro de avaliar as coisas sem levar em conta o momento histórico. Comparam os jovens de hoje com os jovens da ditadura militar… O Brasil é diferente, a vida é diferente. Os jovens que combateram a ditadura, como a Dilma (Rousseff, candidata do PT à presidência), lutaram para que a minha geração vivesse em liberdade. Temos que colocar as coisas dentro de seu período histórico. A população jovem hoje é muito maior, numericamente falando. Somos 55 milhões de jovens, e sobre nós incide de maneira mais cruel a desigualdade. Os jovens convivem com as oportunidades geradas pelo governo Lula, mas também com as desigualdades que ainda não superamos. Um cara que estuda consegue acessar a universidade, mas ele precisa trabalhar oito horas para pagar essa universidade. Então, é preciso entender quem é o jovem hoje. E também é preciso entender, na minha opinião, quais são as formas de participação da juventude. O movimento estudantil, hoje, é uma de várias formas de manifestação da juventude, como é o hip hop, como são os jovens universitários desenvolvendo pesquisas, como são os jovens que atuam no movimento de democratização da mídia… Vendo por esse lado, o movimento dos jovens é até maior hoje do que era na ditadura. Também é uma ilusão achar que todos os jovens estavam lutando pela liberdade, na época da ditadura. Acho que há uma tentativa de estereotipar nossa juventude como se ela fosse alienada, e ela não é.

Sul21 – E por que isso?

Manuela -
Porque a gente saiu de um processo muito longo de neoliberalismo, que vendia a ideia de que o indivíduo era superior ao coletivo. Para essa visão, é errado divulgar valores coletivos. Uma pessoa tem que encarar seus colegas de aula como adversários, porque eles serão adversários no mercado. A gente ainda vive em um mundo em que se difunde muito os valores individuais. E acreditar na juventude, em sua capacidade de mobilização, equivale a dizer que isso é mentira.

http://sul21.com.br/jornal/2010/10/manuela-%E2%80%9Ctenho-o-sonho-de-ser-prefeita-de-porto-alegre%E2%80%9D/






Post-scriptum: sugestões de leitura

@opinioso - Fazer a diferença (ou Porque Felipe Neto continua errado)

@opinioso - Da arte de se explicar sem se explicar (ou Porque o #preçojusto não pode ser defendido)

@Tsavkko (sugestão do @brizola_neto) - Preço Justo Já e a falta de crítica da classe média #PrecoJusto

2 de abril de 2011

Conjecturas nada estáveis I



"[O materialista histórico] extrai da época uma vida determinada e, da obra composta durante essa vida, uma obra determinada. Seu método resulta em que na obra o conjunto da obra, no conjunto da obra a época e na época a totalidade do processo histórico são preservados e transcendidos" (BENJAMIN, 1987, p.231).

Para que se possa compreender uma determinada época, ao invés de se adotar uma perspectiva “historicista”, de fundamento positivista, convém ser mais adequada uma postura que privilegie as manifestações ideológicas de cada momento histórico, compreendendo as suas oposições, intersecções e contradições. As próprias manifestações ideológicas não são estanques, pois são ressignificadas às variáveis de tempo, espaço, condição socioeconômica, cultural, racial, de gênero, etc.

A soma de tais variáveis é o que permite o exercício do materialista histórico em compreender uma determinada realidade e as perspectivas ideológicas que estejam em jogo. Não esquecendo que ele próprio – o sujeito que se propõe a realizar o exercício de análise – a realiza sob uma perspectiva ideológica, seja consciente ou não, e que essa perspectiva não é harmônica, mas está em tensão com outras perspectivas ideológicas, hegemônicas ou emergentes em determinados campos sociais.

Tenho em vista, por exemplo, que, ao me propor a analisar a dimensão ideológica dos últimos textos de Marguerite Duras, publicados nos anos 90, devo considerar os posicionamentos que a sua escrita carrega – não diretamente, mas possivelmente como palimpsestos – frente a momentos históricos e vivências pessoais, como as políticas do império francês frente à colônia no oriente e o modo como tal circunstância histórica foi compreendida pela escritora a partir da sua vivência na infância, a sua participação na resistência francesa ao nazismo durante a segunda guerra e como essa experiência foi assimilada na sua escrita, bem como o engajamento e a decepção com o PCF, entre outras circunstâncias tematizadas diretamente ou tangencialmente pelo conjunto de sua obra.

Mas também devo ter em vista – embora não esteja entre os objetivos da pesquisa – as circunstâncias que fazem com que um jovem pesquisador em seus vinte e poucos anos, oriundo do sul do Brasil, através de várias experiências pessoais que fazem com que eu me constitua como sujeito de uma época e ao mesmo tempo singular, me interesse pelos textos de Marguerite Duras, e que sentidos são produzidos ao se ressignificar (pelo simples ato de leitura) uma obra produzida em diferentes circunstâncias históricas, geográficas, culturais, etc. Ou seja: devo ter em vista que o próprio discurso sobre outro discurso também traz consigo perspectivas ideológicas, seja em embate ou confluência entre si, ao mesmo tempo em que devo considerar que, inevitavelmente, todo o discurso se funda sob outros discursos.

22 de março de 2011

Sobre a experiência pessoal e profissional em Alegrete

Praça matriz do Alegrete. Na imagem, uma referência de Mário Quintana ao tipo de cidade que (espero) ficará apenas no passado. Tenho otimismo em relação ao Alegrete.


Semestre passado tive uma incrível experiência ao trabalhar em uma escola pública municipal em Alegrete/RS. Foi uma incrível experiência pois tive a oportunidade de confrontar os meus posicionamentos com determinada realidade escolar, interpretá-la e, na medida do possível, agir sobre ela.

Tive vários momentos que me incitaram à reflexão, embora nem sempre tenham partido de situações positivas. Mas tudo é crescimento e amadurecimento.

Sempre costumo iniciar um debate sendo claro: o problema não é pensarmos diferente. Adoro poder aprender e crescer ao confrontar as minhas ideias com quem pense diferente. Desde que haja coerência e seriedade nos argumentos.

Esse rodeio todo é para narrar uma rápida situação em que me deparei algumas vezes logo que cheguei na cidade. Alguns professores vieram me questionar sobre o que eu estava fazendo "dando aula por lá". Eles comentavam que eu sou jovem, tenho boa formação, etc., e poderia procurar "coisa melhor". Na maioria das vezes eu acenava apenas com um sorriso meio constrangido. Outras eu me sentia mais a vontade para responder o que penso: Tudo bem, eu posso procurar "coisa melhor" (como eles me diziam). Não havia nada que me prendesse por lá, e também já tinha outros planos para mim. Mas, ao mesmo tempo, eu me perguntava e provocava os interlocutores: Se os "bons e jovens professores" (na lógica deles) devem ir embora da cidade, procurar "coisa melhor", quem vai dar aulas para essas crianças?

***

Pensei em terminar o post por aqui, mas convém destacar: conheci ótimos profissionais de educação na rede municipal da cidade, questionadores da própria realidade, abertos para novas ideias e atentos à sua responsabilidade como educadores em incentivar o protagonismo da juventude.

Sim, um outro mundo é possível.
E vocês podem (e devem) ser protagonistas na mudança da realidade, tanto em nível individual quanto da realidade à sua volta.
Espero poder ter passado, de alguma forma, essa mensagem.
Um abraço aos meus ex-alunos da Escola Municipal Lions Clube.

19 de março de 2011

Vale por um poema do Manoel de Barros


Nota: a foto é de um ninho de passarinhos que foi retirado de dentro do suporte de luz que fica na frente de casa. Observa-se que o ninho fora construído com gravetos e folhas secas, mas também com plástico, arame, cabelo... Ah, e apenas retiramos o ninho muito tempo depois de já ter sido abandonado.