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na verdade, tanto faz.

18 de agosto de 2011

Por enquanto

Com a chave na mão
quer abrir a porta,
não existe porta;
quer morrer no mar,
mas o mar secou;
quer ir para Minas,
Minas não há mais.
José, e agora?
(Drummond)

Sabe aquela certa falta de pertencimento a algum lugar? Imagino que seja próprio de uma parcela da juventude da minha geração. Nasci em um lugar, cresci em outro, fui estudar em outro. Sem nunca me sentir propriamente parte de algum desses lugares, mas tendo a casa dos pais como o refúgio, minha mãe não mora mais na cidade onde estudei e conheci os amigos da adolescência. Para tentar ser claro, uso o título eleitoral como exemplo: onde votar para prefeito, para vereadores? Nesse sentido mais específico, há tempos me sinto esse jovem errante, sem rumo certo.

“Se lembra quando a gente chegou um dia a acreditar que tudo era pra sempre, sem saber que ‘pra sempre’ sempre acaba?” Desde os meus dezesseis anos tenho esses versos de Renato Russo cantados por Cássia Eller na minha cabeça. Essa descoberta nos desterra, nos questiona sobre nosso passado e o nosso futuro, sobre quem somos e o que queremos. Há tempos quero sair daqui. Porém, na iminência de mudança, me vem à cabeça o que se deixa para alçar novas oportunidades. “Mesmo com tantos motivos pra deixar como tudo como está... Nem desistir, nem tentar: agora tanto faz. Estamos indo de volta pra casa...” O impasse é que, ao contrário da música, não há mais casa para voltar. Os laços são com a família que, mesmo longe, é sempre o nosso porto seguro; e são com os amigos distantes (ou às vezes, nem tão distantes assim), mas sempre presentes nas comemorações e nas tristezas, ligados pelo telefone, pela internet e pelas rotas de ônibus e avião.

O inquietante é mesmo a desterritorialização. A casa, o terreno, a rua, os vizinhos... Os colegas de jardim de infância, dos primeiros anos de escola... Penso nos meus queridos vizinhos da minha infância na rua Marechal Deodoro; tantos caminhos, quantos descaminhos, alguns tenho amizades sólidas até hoje, mas onde estarão todos? Hesitar em relação às mudanças? Temos esse direito para conosco e para com aqueles que nos importamos e somos importantes? Penso que justo agora (e esse agora não se refere a um tempo específico, mas sempre a esse instante que se reatualiza como uma correnteza) deixaremos isso que nunca nos consideramos parte, até a iminência da mudança. Penso nos trajetos que fazemos todos os dias, as pessoas que encontramos, os vizinhos, os donos da padaria e da loja de utilidades da esquina, as moças do mercado e da farmácia, os rapazes da ferragem, as professoras e as crianças da escolinha, as casas e as calçadas exploradas dia após dia pela criança que descobre o mundo por esses trajetos; penso no chalé em que moramos, nas suas inúmeras qualidades e nos seus poucos problemas, nos amigos que aqui recebemos e que, juntos, tivemos momentos inesquecíveis. E, de uma hora para outra, o turbilhão do futuro nos arremessa daqui. Dizer não, justo depois de tanto nos esforçarmos para conseguirmos?

Mudanças implicam dificuldades na reorganização. Às vezes, o motivo pode ser ruim; não é o caso. A mudança vem por uma novidade muito boa. Mais sorte que juízo, diz ela. Mas sem competência, de nada adiantaria a sorte, digo eu. O momento é dela, o sucesso é dela, com todos os louvores. Estou feliz, sinto orgulho dela. Preocuparmo-nos com as mudanças e as dificuldades, sim; hesitar, jamais. Se vai ser mais fácil ou mais difícil? Os desafios com certeza serão maiores, bem como as responsabilidades. Mas quem já passou pelo que nós passamos – e o que ela passou, com todas as vitórias acumuladas – tiraremos de letra. E em breve na nossa futura moradia, haveremos de receber os amigos que acumulamos por onde passamos. E por onde haveremos ainda de passar.


3 comentários:

Méri Brião disse...

Oi amigo!!!
Mesmo esse post não sendo dedicado a mim, eu chorei lendo ele e lembrando do nosso tempo de ensino médio! Como era bom!
O teatro, tudo! Sinto muita falta disso.
Você sabe, nasci num lugar (Rio Grande), cresci em outro (aprendi a me virar em Osório) e estudei em outro (São Paulo) e realmente me faz muita falta os amigos.
Falar por telefone, por internet não basta, a gente quer estar lá, no mesmo lugar, pessoalmente.
Minha família está parte em Rio Grande, parte em Osório, parte em Itajaí e espalhados pelo Brasil e não consigo estar sempre com eles.
Queria muito poder dizer "Estamos indo de volta pra casa" mas não posso mais, não tem como.
Saudades de você!
Quando passar por SP dá um pulinho aqui em casa, quero muito conhecer o Miguel!
Sabe qual a primeira cena que me vem a cabeça quando penso em vc?
Lembro de um dos nossos aniversário, que pra variar a páscoa ia cair no mesmo dia(sim, a páscoa nos persegue, nós fazemos aniversário sempre no mesmo dia, ela que muda, então a páscoa cai no nosso aniversário e não vice-versa rsrs)e tinha um mural na escola e você recortou um coelho de papel que na verdade era um cartão, e você me dava feliz aniversário e encerrava dizendo "do seu irmão 1:40h mais novo) rsrs e colocou lá!
Lembro que trocávamos presentes e brigávamos p ver quem era melhor: escoteiros ou desbravadores?
rsrs
Bons tempos que não voltam jamais!
"Mas eu sei que alguma coisa aconteceu, tá tudo assim, tão diferente"
Um abraço!!!!
Te espero no meu blog e o meu twitter (vc tá na barra lateral do meu blog tbm viu!

Pablo Berned disse...

Nossa, como fiquei feliz com o teu recado! Como é bom lembrar daquele tempo que a gente era feliz... E sabíamos que éramos felizes e o passar do tempo nos têm trazido muitas vitórias! Realmente, as coisas têm acontecido muito rápido, como um turbilhão, e temos que estar atentos para não deixar a correnteza passar... Porém, sempre é bom nos lembrarmos daquele ensino médio que tivemos!
Estou devendo uma ida à SP há tempos, mas ainda não tive oportunidade. Numa dessas, te aviso. Ou, caso venha ao RJ esse ano, ou vá ao interior do RS a partir do ano que vem, não deixa de entrar em contato! Bjos! Até mais!

Méri Brião disse...

Não sei se você sabe, mas sempre que tenho saudades de casa, venho aqui ler esta postagem...
Leio ela com o vídeo tocando...
Um abraço...
Saudades
Méri
http://meribriao.blogspot.com

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