literatura, política, cultura e comportamento.
seja em santa maria, em alegrete, no rio de janeiro, em osório ou em liechtenstein.
na verdade, tanto faz.

21 de agosto de 2011

so happy together


Ao mesmo tempo em que dizia um eu te amo inaudível pelo ruído do motor, ele molhou a ponta do dedinho com cuspe e desenhava alguma coisa para mim do lado de dentro do vidro do ônibus... Somos tão felizes quando estamos juntos, mas sempre soubemos que hora ou outra as nossas escolhas nos arrebatariam... Ela disse que essa última semana passou como se fosse um ano. É verdade. Hoje, estamos, cada um dos três, indo para lados diferentes. Por um lado estou muito triste, mas por outro sei que isso é por pouco tempo. Certa vez, com muita sabedoria, ela me disse que ele é a coisa mais importante para nós, mas não é a única... Hoje sei que, independente nos nossos anseios pessoais, mesmo os de cinco anos atrás, só podem ser pensados enquanto "nossos", ainda que estejamos indo cada um para um lado...

Na certeza de que será por muito pouco tempo.

Logo, logo, nós três juntos novamente.

"E até lá, vamos viver... temos muito ainda por fazer, não olhe pra trás... O mundo começa agora: apenas começamos..."

18 de agosto de 2011

Por enquanto

Com a chave na mão
quer abrir a porta,
não existe porta;
quer morrer no mar,
mas o mar secou;
quer ir para Minas,
Minas não há mais.
José, e agora?
(Drummond)

Sabe aquela certa falta de pertencimento a algum lugar? Imagino que seja próprio de uma parcela da juventude da minha geração. Nasci em um lugar, cresci em outro, fui estudar em outro. Sem nunca me sentir propriamente parte de algum desses lugares, mas tendo a casa dos pais como o refúgio, minha mãe não mora mais na cidade onde estudei e conheci os amigos da adolescência. Para tentar ser claro, uso o título eleitoral como exemplo: onde votar para prefeito, para vereadores? Nesse sentido mais específico, há tempos me sinto esse jovem errante, sem rumo certo.

“Se lembra quando a gente chegou um dia a acreditar que tudo era pra sempre, sem saber que ‘pra sempre’ sempre acaba?” Desde os meus dezesseis anos tenho esses versos de Renato Russo cantados por Cássia Eller na minha cabeça. Essa descoberta nos desterra, nos questiona sobre nosso passado e o nosso futuro, sobre quem somos e o que queremos. Há tempos quero sair daqui. Porém, na iminência de mudança, me vem à cabeça o que se deixa para alçar novas oportunidades. “Mesmo com tantos motivos pra deixar como tudo como está... Nem desistir, nem tentar: agora tanto faz. Estamos indo de volta pra casa...” O impasse é que, ao contrário da música, não há mais casa para voltar. Os laços são com a família que, mesmo longe, é sempre o nosso porto seguro; e são com os amigos distantes (ou às vezes, nem tão distantes assim), mas sempre presentes nas comemorações e nas tristezas, ligados pelo telefone, pela internet e pelas rotas de ônibus e avião.

O inquietante é mesmo a desterritorialização. A casa, o terreno, a rua, os vizinhos... Os colegas de jardim de infância, dos primeiros anos de escola... Penso nos meus queridos vizinhos da minha infância na rua Marechal Deodoro; tantos caminhos, quantos descaminhos, alguns tenho amizades sólidas até hoje, mas onde estarão todos? Hesitar em relação às mudanças? Temos esse direito para conosco e para com aqueles que nos importamos e somos importantes? Penso que justo agora (e esse agora não se refere a um tempo específico, mas sempre a esse instante que se reatualiza como uma correnteza) deixaremos isso que nunca nos consideramos parte, até a iminência da mudança. Penso nos trajetos que fazemos todos os dias, as pessoas que encontramos, os vizinhos, os donos da padaria e da loja de utilidades da esquina, as moças do mercado e da farmácia, os rapazes da ferragem, as professoras e as crianças da escolinha, as casas e as calçadas exploradas dia após dia pela criança que descobre o mundo por esses trajetos; penso no chalé em que moramos, nas suas inúmeras qualidades e nos seus poucos problemas, nos amigos que aqui recebemos e que, juntos, tivemos momentos inesquecíveis. E, de uma hora para outra, o turbilhão do futuro nos arremessa daqui. Dizer não, justo depois de tanto nos esforçarmos para conseguirmos?

Mudanças implicam dificuldades na reorganização. Às vezes, o motivo pode ser ruim; não é o caso. A mudança vem por uma novidade muito boa. Mais sorte que juízo, diz ela. Mas sem competência, de nada adiantaria a sorte, digo eu. O momento é dela, o sucesso é dela, com todos os louvores. Estou feliz, sinto orgulho dela. Preocuparmo-nos com as mudanças e as dificuldades, sim; hesitar, jamais. Se vai ser mais fácil ou mais difícil? Os desafios com certeza serão maiores, bem como as responsabilidades. Mas quem já passou pelo que nós passamos – e o que ela passou, com todas as vitórias acumuladas – tiraremos de letra. E em breve na nossa futura moradia, haveremos de receber os amigos que acumulamos por onde passamos. E por onde haveremos ainda de passar.


Diga não em Porto Alegre!

Ainda este mês vocês podem conferir, em Porto Alegre, o espetáculo teatral "O Dia em que Aprendi a Dizer Não", sob atuação do ator e meu amigo Maico Silveira (do blog "Maico sem n"). Pelas palavras do "Casa XV", "o cerne do trabalho consiste em agregar elementos plásticos do trabalho do ator, baseado essencialmente na utilização de técnicas oriundas do mimo corporal e do futebol como estilo livre, a uma temática e estética que reflitam as inquietudes de nossas vidas cotidianas". Ou ainda, conforme a divulgação no Brasília Agenda, é "um espetáculo humorado, irônico e sem concessões às peculiaridades do homem na atualidade, de sua contemporaneidade e de seu embate com os conceitos, preconceitos e dogmas da sociedade". Se estiver pela capital gaúcha, não deixe de comparecer para conferir; ou recomende para quem estiver por lá!


peça: O dia em que aprendi a dizer NÃO
site: http://odiadonao.blogspot.com/

direção: Camila Bauer
atuação: Maico Silveira
texto: Pablo Berned e Maico Silveira
Trilha sonora original: Leonardo Dias
Produção: Colectivo El Sótano [http://colectivoelsotano.blogspot.com/]

local: IAB - Instituto de Arquitetos do Brasil (General Canabarro, 363, esquina com Riachuelo - Centro, Porto Alegre)
horário: TERÇAS, QUARTAS E QUINTAS, 20h.
ingressos: R$ 20 e R$ 10
Somente até 25 de agosto.