literatura, política, cultura e comportamento.
seja em santa maria, em alegrete, no rio de janeiro, em osório ou em liechtenstein.
na verdade, tanto faz.

31 de agosto de 2010

"Há metafísica bastante em não pensar em nada"

É do Ruben a ótima sugestão de leitura do seguinte poema de Alberto Caieiro, heterônimo do grande poeta português Fernando Pessoa. Curtam:

Há metafísica bastante em não pensar em nada.


O que penso eu do mundo?
Sei lá o que penso do mundo!
Se eu adoecesse pensaria nisso.


Que ideia tenho eu das cousas?
Que opinião tenho sobre as causas e os efeitos?
Que tenho eu meditado sobre Deus e a alma
E sobre a criação do Mundo?
Não sei. Para mim pensar nisso é fechar os olhos
E não pensar. É correr as cortinas
Da minha janela (mas ela não tem cortinas).


O mistério das cousas? Sei lá o que é mistério!
O único mistério é haver quem pense no mistério.
Quem está ao sol e fecha os olhos,
Começa a não saber o que é o sol
E a pensar muitas cousas cheias de calor.
Mas abre os olhos e vê o sol,
E já não pode pensar em nada,
Porque a luz do sol vale mais que os pensamentos
De todos os filósofos e de todos os poetas.
A luz do sol não sabe o que faz
E por isso não erra e é comum e boa.
Metafísica? Que metafísica têm aquelas árvores?
A de serem verdes e copadas e de terem ramos
E a de dar fruto na sua hora, o que não nos faz pensar,
A nós, que não sabemos dar por elas.
Mas que melhor metafísica que a delas,
Que é a de não saber para que vivem
Nem saber que o não sabem?


"Constituição íntima das cousas"...
"Sentido íntimo do Universo"...
Tudo isto é falso, tudo isto não quer dizer nada.
É incrível que se possa pensar em cousas dessas.
É como pensar em razões e fins
Quando o começo da manhã está raiando, e pelos lados das árvores
Um vago ouro lustroso vai perdendo a escuridão.


Pensar no sentido íntimo das cousas
É acrescentado, como pensar na saúde
Ou levar um copo à água das fontes.


O único sentido íntimo das cousas
É elas não terem sentido íntimo nenhum.


Não acredito em Deus porque nunca o vi.
Se ele quisesse que eu acreditasse nele,
Sem dúvida que viria falar comigo
E entraria pela minha porta dentro
Dizendo-me, Aqui estou!


(Isto é talvez ridículo aos ouvidos
De quem, por não saber o que é olhar para as cousas,
Não compreende quem fala delas
Com o modo de falar que reparar para elas ensina.)


Mas se Deus é as flores e as árvores
E os montes e sol e o luar,
Então acredito nele,
Então acredito nele a toda a hora,
E a minha vida é toda uma oração e uma missa,
E uma comunhão com os olhos e pelos ouvidos.
Mas se Deus é as árvores e as flores
E os montes e o luar e o sol,
Para que lhe chamo eu Deus?
Chamo-lhe flores e árvores e montes e sol e luar;
Porque, se ele se fez, para eu o ver,
Sol e luar e flores e árvores e montes,
Se ele me aparece como sendo árvores e montes
E luar e sol e flores,
É que ele quer que eu o conheça
Como árvores e montes e flores e luar e sol.
E por isso eu obedeço-lhe,
(Que mais sei eu de Deus que Deus de si próprio?).
Obedeço-lhe a viver, espontaneamente,
Como quem abre os olhos e vê,
E chamo-lhe luar e sol e flores e árvores e montes,
E amo-o sem pensar nele,
E penso-o vendo e ouvindo,
E ando com ele a toda a hora.

(poema V de O criador de Rebanhos, 1925)

18 de agosto de 2010

Eleições 2010: políticas públicas para portadores de necessidades especiais no centro do debate

Foi na Bandeirantes que os portadores de necessidades especiais tornaram-se tema de debate nas eleições presidenciais. O tucano José Serra insistia que o amparo governamental a essa parcela da população havia regredido durante os oito anos de governo Lula. Apenas nos dias seguintes ao debate se teve acesso aos fatos e números reais, que no momento acabam se perdendo.

Dias depois, repassei
o seguinte texto para alguns amigos que, por um motivo ou outro, têm interesse no tema:

Apaes: “Serra distorceu informações, tirou proveito das angústias de pais e reforçou preconceitos”, por Conceição Lemes: http://www.viomundo.com.br/denuncias/apaes-%E2%80%9Cserra-distorceu-informacoes-tirou-proveito-das-angustias-de-pais-e-reforcou-preconceitos%E2%80%9D.html

Essa iniciativa propôs que pudéssemos debater, em determinado círculo de amigos, as diferentes posições que delineiam as políticas públicas para os portadores de necessidades especiais.

Por exemplo: uma amiga, que já me declarou, de antemão, seu apoio ao Serra, respondeu-me o seguinte:

Li o link que você me mandou, e tenho que admitir que ali há coisas com as quais eu concordo. Mas também existem coisas que sou contra. Para quem olha de fora é diferente de quem está lá dentro (eu estou no meio), por isso entendi o que foi colocado de ambas as partes; o problema é que no papel é uma coisa, no real é outra...

Ao início do horário de propaganda política, José Serra volta ao tema. Veja aqui.

Eis que o meu amigo Luciano, do blog Reflexões, e acadêmico do curso de Educação Especial, puxa a conversa...

Luciano:
Você viu o horário político, bruxo? Viu a declaração do Serra?

Blog do Berned:
Qual delas?

Luciano:
A que ele promete fazer um centro de tratamentos para as pessoas deficientes.

Blog do Berned
Sim.

Luciano:
Como se a deficiência fosse uma doença que pode ser curada!

Blog do Berned:
Pelo que já conversamos, isso é tratar como área de saúde o que é da área da educação! Ou seja, totalmente oposto às políticas de inclusão.

Luciano:
Sim! Mas é uma visão em que ele vai perder muitos votos por causa disso. Porque a cabeça dos pais, hoje em dia, está em aceitar a deficiência dos filhos e fazê-los levar a vida mais normal possível, e com os professores é a mesma coisa. Pelo menos essa é a minha visão. Talvez eu esteja sendo utópico, mas estamos caminhando para esse lado.

13 de agosto de 2010

Eleições 2010: para que votar?

Ante as próximas eleições, frente às tomadas de posicionamentos e aos debates políticos, é possível que muitos façam a seguinte pergunta: para que votar?

A nossa jovem democracia tem conquistado grandes avanços desde o final da ditadura militar, embora possa amadurecer ainda mais. Através da democracia representativa, delegamos alguém a tomar posições por nós nas instâncias legislativas e executivas do poder com o nosso voto. Entre as pessoas próximas, costumo dizer que o voto é uma procuração que concedemos a uma outra pessoa, para que tome decisões por nós. Ou seja, você conhece os seus candidatos? Sabe que ideias têm, que valores têm, que posicionamentos tomam? Você daria uma procuração para essa pessoa a quem você direciona o seu voto? Ora, não se trata também de negar veementemente as questões acima e anular o voto. Trata-se de conhecer, sobretudo, que projeto de sociedade tais candidatos representam, e conferir se equivale às suas expectativas. Também sempre defendi o voto em classes: ou seja, romper, de fato, aquela posição de subserviência em votar no dotô. Fazer valer, principalmente, nos cargos para o legislativo: votar em líderes comunitários ou em representantes sindicais, que representem os interesses de cada posição social. E que o dotô receba votos apenas dos dotores...

Alguns poderão dizer que o poder corrompe. Que o voto em classe – pobre votando em pobre, por exemplo – apenas possibilitaria ao candidato eleito fazer aquilo tudo que antes criticasse. Refuto essa lógica perversa pois acredito que as pessoas podem, cada vez mais, tomar para si essas responsabilidades que são hoje delegadas a um outro: ou seja, que se possa articular mudanças no sistema social a fim de que possamos ter uma democracia de fato. Democracia vem do do grego, “governo do povo”, embora ainda na Grécia fosse elitista esse regime, haja vista que a porcentagem de “cidadãos” era mínima, já que excluía mulheres, escravos e estrangeiros. À democracia contrapõe-se a monarquia, em que o poder é de uma linhagem familiar legitimada pela unção divina. Porém, ao invés de uma democracia plena, por muito tempo estivemos na mão de oligarquias – “governo de poucos”. Os poucos que detinham o poder político e econômico governavam. Nos anos 60, quando o trabalhismo ameaçava o status quo, as oligarquias, que apoiaram o golpe revelaram-se justamente enquanto ditadura – “governo na mão de uma pessoa, um grupo ou uma classe”. O Brasil ainda possui seus oligarcas na política, sejam eles candidatos ou financiados por eles. Por isso é tão importante a defesa de uma reforma política no Brasil, que entre outras coisas defenda o financiamento público exclusivo de campanha: para que os candidatos sejam eleitos pelos projetos que defendem, e não pelas doações que recebam. Defendemos uma reforma política que leve ao pé da letra a etmologia de democracia!

Para “quais os critérios para o voto?”, eu reformularia a pergunta: qual é o papel de um governo? Entre diferentes candidatos, diferentes partidos, diferentes coligações, há diferentes projetos que concebem diferentes modelos de sociedade, de governo e de país. Qual é o projeto político que defendemos para o Brasil? Qual é o papel de um governo? Não sei se diferentes projetos políticos responderiam de mesma forma essa pergunta. Eu acredito que um governo, nas condições atuais, sirva para, efetivamente, melhorar as condições de vida das pessoas, universalizando o acesso aos bens públicos que são de direito de todos. Outros podem achar que a vida do povo é supérflua nesse embate político, apesar de isso não ser admitido... O que não se deve fazer, de modo algum, é cair no debate despolitizado, atacando candidatos com críticas pessoais e não políticas. Devemos escolher um projeto político para o país, portanto não faz sentido escolher “A” ou “B” como se escolhe um time de futebol para torcer...

Por aí também podem alegar o descrédito das instituições políticas, sobretudo dos partidos. No Brasil, diferente de outros países, é necessário estar vinculado a algum partido político para ser candidato. Acontece que as legendas, enquanto tivessem mais ou menos uma unidade programática, mais coerentes seriam. Porém, na maioria das vezes, as pessoas vinculam-se a partidos não para a defesa de um projeto específico, mas porque encontram mais facilidades em se candidatar, ou para conseguir um eventual trabalho em algum órgão público. Isso acaba por descaracterizar certas bandeiras partidárias: tanto faz estar em um lado ou outro das disputas eleitorais. No entanto, simplesmente concluir isso é desconsiderar que há partidos que se estruturam de modo diferente entre si. Há partidos que têm correntes internas, a fim de forçar debates internamente; há partidos que têm mais ou menos pré-definidas as suas diretrizes ideológicas; e há o que chamamos de “legendas de aluguel”, entre outros nuances que poderíamos considerar. Com a legalidade do financiamento privado de campanha, o sujeito pode ver a sua própria candidatura como um investimento: ele não está para defender uma ideia conjunta, em que qualquer candidato de seu partido levará consigo. Há conflitos intrapartidários em virtude justamente dessa lógica absurda em que o candidato precisa se eleger em nome de um personalismo que, na verdade, é a busca pelo retorno do capital investido/perdido. Todavia, não creio que se possa generalizar essa afirmação.

Eis a responsabilidade que temos ao delegar essa procuração, não em nosso nome, mas em nome de nossa comunidade, de nossa cidade, de nosso futuro. Certas posturas, circunstâncias, opções, poderão modificar diretamente a vida de milhares de pessoas, positivamente ou negativamente. Percebe a responsabilidade? E ainda falam em voto facultativo! Para mim, abrir mão do voto, seja branco ou seja nulo (legalmente têm o mesmo propósito), ou ainda, desejar o voto facultativo, é apenas uma desculpa para não assumirmos a nossa responsabilidade frente às nossas escolhas.

Sugiro ainda a leitura do ótimo texto no blog Igor de Fato: Histórias de um novo Brasil.

10 de agosto de 2010

Com valor e fibra, tu és o orgulho de Santa Maria

Do G1: Site do Chivas comete erro e publica escudo do Inter de Santa Maria. Serviço da final da Libertadores vem com gafe; nas outras seções da página, porém, o escudo colorado está correto.
 
Colorado, com um pé na América e outro no Mundial...