Foto: Fifa.com, via Flickr/Y!
Muita gente critica esse fenômeno em terras tupiniquins, o nosso patriotismo que se alterna entre copas do mundo de futebol e olimpíadas de verão. Tais críticos, suponho, têm em vista um patriotismo constante ao longo do ano, e que teria seu apogeu no sete de setembro, no quinze de novembro, e talvez no 22 de abril. Seu modelo é, supostamente, as comemorações do 4 de julho nos Estados Unidos e do 14 de julho na França.
Se considerarmos o motivo de comemoração em relação ao julho estadunidense e ao francês, verificaremos que remete a momentos profundamente significativos, de rompimento com uma ordem vigente e surgimento de outra ordem, com intenso apoio e participação popular. É destacado o orgulho nacional de se ter participado de uma grande vitória para o seu país, a sua nação e o seu território.
E no Brasil, por que é diferente? De fato, com os acontecimentos que precederam e atingiram o seu ponto alto no sete de setembro em São Paulo, a independência do Brasil representou uma independência de fato? Ora, as elites mantiveram-se as mesmas, o sistema escravagista e monárquico permaneceu o mesmo, e a dependência política de Portugal, econômica da Inglaterra e cultural da França mantiveram o Brasil agindo como uma colônia. A própria proclamação da república, com mais de cinquenta anos de atraso, apenas exprimiu o esgotamento de um sistema em si mesmo, não modificando substancialmente em nada a política e a economia nacional.
Em termos políticos e econômicos, as grandes mudanças iniciaram com o governo de Getúlio Vargas. O caudilho gaúcho, que garantiu inúmeros avanços nas áreas trabalhista e industrial, ainda representava os interesses de sua classe social, embora confrontasse o eixo São Paulo – Minas Gerais. Sua Revolução de 30, que dá início aos 15 anos ininterruptos de presidência, é sim um marco de resistência e luta, ainda que da incipiente classe burguesa.
Quando o processo político do Brasil apontava para mudanças consistentes e significativas pelas eleições democráticas, sobretudo após os anos JK, de efervescência cultural e de grandes construções, os militares, apoiados pela UDN, reprimem os indicativos da mudança por vir e garantem no poder a mesma elite de sempre. Resumindo: na história do Brasil não há vitória de contestadores e revolucionários. As mudanças são tênues, vindas de regimes democráticos ou pelo próprio peso da história.
Que orgulho nacional pode advir dessa história oficial?
De fato, no Rio Grande do Sul, o orgulho gaúcho é muito mais intenso do que o de ser brasileiro, em que a Revolução Farroupilha é o grande motivo. E ainda, aos que possam condenar essa comemoração como uma batalha de interesses de oligarcas, no mesmo estado temos a figura de Leonel Brizola como referência pela Legalidade, a última grande resistência do poder civil ao golpe militar que a precederia. Poderemos admitir que efeito semelhante há em Minas Gerais em relação à Inconfidência e em Pernambuco em relação à Confederação do Equador.
O que torna o nosso país motivo de orgulho? Que ações humanas tornam o nosso especial e destacado em relação a outros? O que nos coloca na ponta de grandes países? Até pouco tempo, que atividade cumpria essa necessidade de auto-afirmação, senão o esporte, e mais especificamente o futebol?
Possivelmente apenas no século XXI começamos a abandonar o complexo de vira-latas e ter orgulho de nosso país, pela via democrática e coalizão política em torno de um projeto nacional de desenvolvimento e distribuição de renda. Apesar de sua imprensa e parte da população não terem assimilado que a mudança veio pra ficar, cada um de nós tem responsabilidade pela construção do país e grande nação que todos queremos que seja. Ter orgulho é ter amor-próprio, e amor-próprio se conquista pela satisfação em colaborar.
2 comentários:
Pablito!
Muito boa a reflexão acerca do patriotismo (ou falta dele) que envolve brasileiros nessa época do ano, a cada quatro anos. Sem deixar de frisar que este ano é eleitoral, e que pouco ou nada se fala do assunto em meio a vuvuzelase gols.
Espero, como aspirante a jornalista, ter sabedoria suficiente para passar a realidade vista de maneira mais humana e realista, sem os apelos midiáticos e sem ter que enfeitar os fatos para atrair o público.
Repito, muito bom o post! Senti falta de atualizações nos últimos meses.
Um abraço!
Bruna
Realmente, reflexão boa e necessária. Sigamos todos teu caminho, vamos nos apropriar do país e se possível das rédeas dele, hehehe. Pra ser muito mais Brasil, Dilma Presidente!
Postar um comentário
BLOG DO BERNED
literatura, política, cultura e comportamento.
seja em osório, em santa maria ou em liechtenstein.
na verdade, tanto faz.
.::: Após o sinal, deixe o seu nome, e a cidade de onde está falando :::.