literatura, política, cultura e comportamento.
seja em santa maria, em alegrete, no rio de janeiro, em osório ou em liechtenstein.
na verdade, tanto faz.

30 de outubro de 2010

O Alegrete que os alegretenses querem para o futuro

O que significa investir em educação? Creio que investir em educação é investir em melhoria de qualidade de vida, de emprego e de desenvolvimento a médio e longo prazo. É criar oportunidades para que as nossas crianças, adolescentes e jovens vejam um horizonte próspero em seu futuro... “É preciso força pra sonhar e perceber que a estrada vai além do que se vê!” – cantam Los Hermanos.

Nessa minha estadia profissional pelo Alegrete, tenho ouvido de tudo. Adotei a postura cautelosa de mais ouvir do que falar, pois tudo pelo que passamos pode se converter em aprendizado e amadurecimento. Porém, nem tudo que ouvimos deve ser assimilado acriticamente: a coerência com o modo de concebermos o mundo e modificá-lo deve estar em constante tensão com o que lemos e ouvimos.

Numa dessas conversas, em Alegrete, ouvi dizer que não há oportunidade de formação profissional para o jovem alegretense. De fato, a juventude do Alegrete deve ter prioridade nas políticas públicas nas esferas estaduais e federais (contando com a eleição da Dilma), pois muitos jovens hoje não têm perspectivas de emprego e renda, e surgem como possibilidades, ou a saída para grandes centros industriais, ou o descambar para a criminalidade. Podemos ver que isso se dá pela pobreza da região, ao (ainda!) privilegiar um coronelianismo feudal de subserviência e a concentração de renda em torno de meia dúzia de famiglias. O próprio Alegrete não investe no Alegrete, não gera poder de consumo para que se possam desenvolver economicamente as cidades da região.

Por outro lado, afirmar que nada esteja acontecendo é ler a realidade empírica de forma fragmentada e, portanto, limitada. Voltemos aos anos 90, relembremos do Alegrete naquela época, e imaginaríamos uma cidade universitária? Com certeza isso seria motivo de chacota entre a juventude da época, para quem tinha apenas Porto Alegre, Santa Maria, Rio Grande e Pelotas como possibilidades de cursar uma universidade gratuita (pública e de qualidade!).

Mas o Alegrete está mudando. Hoje a cidade conta com CINCO UNIVERSIDADES, das quais, contribuindo para a interiorização e democratização da educação, TRÊS SÃO PÚBLICAS: a Unipampa, o Instituto Federal Farroupilha (que oferece cursos tecnológicos de níveis médio e superior e atende a uma demanda de licenciaturas e cursos de pós-graduação) e a UERGS (que tende a ter seus investimentos retomados com a eleição de Tarso Genro para o Rio Grande do Sul). Além disso, temos a URCAMP, por onde as pessoas podem ser financiadas por meio do PROUNI. Também há a UNOPAR, que tem contribuído com a formação de profissionais na região por meio do ensino a distância, estimulado pelo Governo Federal, como diminuição das fronteiras à informação e ao conhecimento.

Enquanto a população da cidade não assimila a importância histórica desses investimentos na cidade, nossos jovens não estarão enxergando essas instituições como possibilidades concretas. Nós, educadores, pais, gestores públicos, jornalistas – todos – temos a responsabilidade de divulgar e incentivar nossos jovens. O grande medo hoje na cidade é que ela forme pessoas, mas não gere mercado para que possam atuar na própria cidade e região. Ora, só é possível garantir que esses profissionais possam permanecer e colaborar com o desenvolvimento da cidade se houver a geração ampla de formação e empregos à juventude, por meio de incentivos concretos de emprego e renda nas mais diversas áreas.

O posicionamento estratégico da cidade, a meio caminho do Uruguai e da Argentina, faz com que a cidade seja promissora. Porém, o que parece é que a cidade espera um messias que virá e, com a sua graça e palavras mágicas, transformará a cidade em um reino dos céus. Parece não ser claro que a mudança só pode acontecer por meio de tensionamento político, envolvimento social e posicionamento frente aos projetos para a cidade. Que cidade o povo do Alegrete quer para o Alegrete? E o que é necessário fazer para o Alegrete corresponder às expectativas dos seus cidadãos? Como operar, como resolver os problemas que impedem o Alegrete de corresponder a essas expectativas? Precisamos parar de resmungar e, com a boca escancarada, cheia de dentes, esperar o apocalipse chegar! Precisamos ser propositivos e objetivos para a cidade que se espera e se quer para o Alegrete!

24 de outubro de 2010

Por que me engajar?


Certos olhares não mentem. “O que ele quer, fazendo campanha política? Ainda mais de graça, para os outros, que nem sabem quem ele seja! Ele não precisa disso!” Ou, “como ele se deixa levar por essa politicagem?” Para começar a responder perguntas como essas, citaria um verso do maestro Jobim: “É impossível ser feliz sozinho!”.

Durante meu ensino médio em Osório, gostaria de ter me envolvido mais na política estudantil. Porém, a falta de acesso à informação limitava-me. Ainda assim, com alguns amigos, conseguimos tornar viável o plebiscito contra a ALCA no município em 2002!

A grande expectativa que criei pela atuação da política estudantil na universidade foi frustrada ao ter as minhas primeiras impressões na UFSM. Eu, com 17 anos, imaginava que a política estudantil poderia propor novos métodos de fazer política, e não apenas reproduzir o que já se fazia na política institucional. Possivelmente essa leitura que fiz nas minhas primeiras impressões tenha se dado por não haver outros movimentos estudantis expressivos e de esquerda que se contrapusessem às práticas do movimento hegemônico naquele momento. Deixem-me esclarecer: não me contrapunha, de modo geral, às pautas, mas às práticas políticas. De qualquer forma, mesmo não me engajando de fato, acompanhava e apoiava as pautas do movimento estudantil.

De qualquer modo, nas conversas com os amigos são apresentadas ideias, opções e saídas... A gente ouve tudo, assimila, mas certas coisas precisam de um amadurecimento lento...

Movimento promovido
pela UNE e UBES em 2007
Já estava no mestrado, e por ocasião de um evento, estava em São Paulo. Chovia desde cedo naquela manhã. Nisso, estava a uns 200m da prefeitura da capital, sobre um viaduto, próximo à marquise de uma grande loja, em que uns quantos mendigos – homens, mulheres, crianças e idosos – abrigavam-se da chuva. Pude ouvir o diálogo em que um policial informava a uma mulher que todos eles deveriam sair dali, para que a loja pudesse abrir. A mulher (com duas crianças em volta e uma no colo) então responde que eles não teriam problema algum em sair dali, e questionava: “mas para onde a gente vai?” Sobre o viaduto, dava para enxergar as telas recém colocadas pela prefeitura de São Paulo para impedir que mendigos se abrigassem ali.

“Mas para onde a gente vai?” – a pergunta me ressoava na cabeça. Já não era mais o mesmo depois dessa cena. E se fosse comigo? Essa era a segunda pergunta que ressoava na minha cabeça... Afinal, as oportunidades que tive e pude aproveitar foram, em grande parte, por sorte. De mesmo modo que eu pude nascer no seio de uma família que pode me oportunizar certas condições, há aqueles que nasceram sem acesso a um mínimo dessas oportunidades. E quando o meu filhote nasceu... Aí eu percebi mesmo que eu não poderia me contentar com as coisas do jeito que são. Que, se eu pudesse contribuir para que houvesse uma universalização de oportunidades, eu iria me engajar. Não apenas para oportunizar um futuro melhor para o meu filho, mas para que o mundo ofereça condições mais humanas para todos os nossos filhos.

Como ser feliz sozinho? Como ser feliz vendo miséria e descaso por todos os lados? Se, por algum acaso, não sou eu e minha família passando por necessidades, poderia (e poderá) por algum acaso ser eu ou algum dos meus necessitando da mão do Estado, como há tantas e tantas famílias que pelos mais variados motivos são postas à margem pelas leis do capital. Se eu puder colaborar para o fortalecimento de um Estado que contribua para a construção do socialismo e para o protagonismo popular, estarei me engajando por essa luta.


O presente é tão grande, não nos afastemos.
Não nos afastemos muito,
vamos de mãos dadas... (Drummond)
 
Por isso pego as bandeiras e dou a “cara à tapa”. Porque me vejo como parte de um ideal maior, em nome de um projeto concreto que possa melhorar de fato a vida das pessoas que precisam, mesmo reconhecendo as contradições que possa haver. Como dizia o Raulzito, "Sonho que se sonha só é só um sonho que se sonha só; mas sonho que se sonha junto é realidade"!

O processo democrático não termina com o voto. Pelo contrário, é pelo direito ao voto que o processo democrático começa, e é pelo dever ao voto que não podemos nos isentar das responsabilidades que existem através do processo democrático.

23 de outubro de 2010

O que restará afinal?


Uma professora que havia me visto em plena campanha no calçadão do Alegrete perguntou-me, numa outra oportunidade, a respeito da suposta violência contra o candidato Serra, no episódio do Rio de Janeiro. Na opinião dela, tanto o Serra errou, como o Lula errou ao desdenhar a violência. Como cobrar de nossos alunos que não joguem bolinhas de papel na sala de aula, quando há exemplos como esse na esfera política? Ensaiei uma contestação a fim de argumentar que houve sim fraude, mas, no momento, optei em não prolongar esse debate. Isso porque, utilizando a mesma comparação que ela já havia feito, creio que o que poderá restar são o conhecimento e os valores que pudermos oferecer aos nossos alunos, e não eventuais os problemas de indisciplina, como as bolinhas de papel. Ou seja, de mesmo modo, o que é importante para o futuro do nosso país, a propósito das eleições, não é se era uma bolinha de papel ou uma bobina de papel, mas as visões de mundo e de país que há nos distintos projetos de cada um dos candidatos.

15 de outubro de 2010

Manifesto em Defesa da Educação Pública


E-mail recebido:

Caras e caros colegas professores universitários,
Vejam em anexo um Manifesto em defesa da Educação pública. Foi preparado por iniciativa de colegas da USP, entre os quais Ricardo Musse e Vladimir Safatle. Também está em preparação um ato público de manifestação de repúdio à candidatura ultra-conservadora do Senhor José Serra, a ser realizado na capital paulista.
Peço encarecidamente que leiam este sucinto Manifesto e o assinem, caso concordem com seus termos. Peço também a mais ampla divulgação para essa iniciativa.
Pessoalmente, considero a leitura desse manifesto muito oportuna, porque o mesmo traz de volta à memória algumas das funestas realizações – no campo específico da educação pública – de José Serra e de seus amigos, como Paulo Renato. Para aderir ao Manifesto é preciso mandar um email para o endereço que segue.
emdefesadaeducacaopublica@gmail.com
Saudações republicanas, laicas portanto.

***

Nós, professores universitários, consideramos um retrocesso as propostas e os métodos políticos da candidatura Serra. Seu histórico como governante preocupa todos que acreditam que os rumos do sistema educacional e a defesa de princípios democráticos são vitais ao futuro do país.

Sob seu governo, a Universidade de São Paulo foi invadida por policiais armados com metralhadoras, atirando bombas de gás lacrimogêneo. Em seu primeiro ato como governador, assinou decretos que revogavam a relativa autonomia financeira e administrativa das Universidades estaduais paulistas. Os salários dos professores da USP, Unicamp e Unesp vêm sendo sistematicamente achatados, mesmo com os recordes na arrecadação de impostos. Numa inversão da situação vigente nas últimas décadas, eles se encontram hoje em patamares menores que a remuneração dos docentes das Universidades federais.

Esse “choque de gestão” é ainda mais drástico no âmbito do ensino fundamental e médio, convergindo para uma política de sucateamento da Rede Pública. São Paulo foi o único Estado que não apresentou, desde 2007, crescimento no exame do Ideb, índice que avalia o aprendizado desses dois níveis educacionais.

Os salários da Rede Pública no Estado mais rico da federação são menores que os de Tocantins, Roraima, Rio de Janeiro, Mato Grosso, Espírito Santo, Acre, entre outros. Somada aos contratos precários e às condições aviltantes de trabalho, a baixa remuneração tende a expelir desse sistema educacional os professores qualificados e a desestimular quem decide se manter na Rede Pública. Diante das reivindicações por melhores condições de trabalho, Serra costuma afirmar que não passam de manifestação de interesses corporativos e sindicais, de “tró-ló-ló” de grupos políticos que querem desestabilizá-lo. Assim, além de evitar a discussão acerca do conteúdo das reivindicações, desqualifica movimentos organizados da sociedade civil, quando não os recebe com cassetetes.

Serra escolheu como Secretário da Educação Paulo Renato, ministro nos oito anos do governo FHC. Neste período, nenhuma Escola Técnica Federal foi construída e as existentes arruinaram-se. As universidades públicas federais foram sucateadas ao ponto em que faltou dinheiro até mesmo para pagar as contas de luz, como foi o caso na UFRJ. A proibição de novas contratações gerou um déficit de 7.000 professores. Em contrapartida, sua gestão incentivou a proliferação sem critérios de universidades privadas. Já na Secretaria da Educação de São Paulo, Paulo Renato transferiu, via terceirização, para grandes empresas educacionais privadas a organização dos currículos escolares, o fornecimento de material didático e a formação continuada de professores. O Brasil não pode correr o risco de ter seu sistema educacional dirigido por interesses econômicos privados.

No comando do governo federal, o PSDB inaugurou o cargo de “engavetador geral da república”. Em São Paulo, nos últimos anos, barrou mais de setenta pedidos de CPIs, abafando casos notórios de corrupção que estão sendo julgados em tribunais internacionais. Sua campanha promove uma deseducação política ao imitar práticas da extrema direita norte-americana em que uma orquestração de boatos dissemina dogmas religiosos. A celebração bonapartista de sua pessoa, em detrimento das forças políticas, só encontra paralelo na campanha de 1989, de Fernando Collor.


Em tempo: veja as fotos do protesto dos professores da rede estadual de São Paulo em março desse ano:
http://educacao.uol.com.br/album/greve_professores_SP_2010_03_26_album.jhtm?abrefoto=27 .

9 de outubro de 2010

Osso duro de roer



Tropa de Elite 2 permite-se inicialmente a uma leitura superficial que aponta para a desmoralização ética do sistema de segurança pública e da política. Em outras palavras, todos estariam corrompidos, e agindo no poder público para benefício próprio com objetivos financeiros e eleitorais. Outra leitura superficial seria relacionar em imediato os acontecimentos da narrativa com o contexto eleitoral.

O fato de o filme ser lançado no contexto eleitoral permite uma comparação imediata com a realidade atualíssima, considerando-se a reeleição do governador e as políticas das unidades de polícia pacificadora. Ora, o filme vem sendo produzido desde o ano passado, e seria leviano considerá-lo como um reflexo da realidade (o filme não foi feito semana passada!).

Chamamos a atenção para a crítica sobre a esquerda que o Nascimento faz ao início do filme, que se modifica ao final, quando ele percebe que o deputado Fraga, na luta pelos direitos humanos, está do mesmo seu lado contra o sistema. Se o Fraga havia se utilizado do caso de Bangu I para se promover politicamente, outros haviam se utilizado da estrutura corrompida do sistema.  Há legitimidade do processo eleitoral, e não há o nivelamento político: pelo contrário, a narrativa do filme deixa claro que todos tomam partido, seja por valores humanitários, seja por interesses eleitoreiros e financeiros.

Ao fim do filme, é lançada toda a responsabilidade em nós, eleitores, tanto no que se refere à ação e financiamento das milícias, quanto de quem elege políticos comprometidos com o sistema que favorece as milícias. O filme é muito bom, e merece uma conclusão crítica pautada nos detalhes dos movimentos do enredo.

4 de outubro de 2010

Um diálogo quase fictício

E no meio do papo...

- Meu colega aqui votou Marina.


- Proteção ambiental aos tucanos! Tudo bem, votou, agora já era...


- Mas no segundo turno a onda verde vira vermelha – diz ele. Ele é um daqueles que são
revoltados com a corrupção...

- A questão é: se ele achou que no momento histórico atual era importante o voto na Marina, que agora analise friamente as proposições para o futuro do Brasil que estão em jogo.


- Ele disse que não é louco de votar em Serra... Não rasga dinheiro – foi o que disse.


- Sério... o problema real não é um governo ter focos de corrupção, pois as pessoas são corruptíveis, e qualquer governo pode ser suscetível a isso, independente do partido ou das lideranças que lá estejam. A questão é se há a valorização das instituições públicas que reprimam e coíbam a prática da corrupção.


- Sim, o que as pessoas não entendem é que a última coisa que a mídia quer ao promover os escândalos midiáticos denuncistas é resolver o problema da corrupção. As críticas da mídia se tornam vazias pois não são propositivas. Elas seriam muito mais efetivas se tomassem partido formalmente e defendessem reformas estruturais na política. Bem se vê que para os "barões da mídia" é conveniente o modo como as coisas estão...