Certos olhares não mentem. “O que ele quer, fazendo campanha política? Ainda mais de graça, para os outros, que nem sabem quem ele seja! Ele não precisa disso!” Ou, “como ele se deixa levar por essa politicagem?” Para começar a responder perguntas como essas, citaria um verso do maestro Jobim: “É impossível ser feliz sozinho!”.
Durante meu ensino médio em Osório, gostaria de ter me envolvido mais na política estudantil. Porém, a falta de acesso à informação limitava-me. Ainda assim, com alguns amigos, conseguimos tornar viável o plebiscito contra a ALCA no município em 2002!
A grande expectativa que criei pela atuação da política estudantil na universidade foi frustrada ao ter as minhas primeiras impressões na UFSM. Eu, com 17 anos, imaginava que a política estudantil poderia propor novos métodos de fazer política, e não apenas reproduzir o que já se fazia na política institucional. Possivelmente essa leitura que fiz nas minhas primeiras impressões tenha se dado por não haver outros movimentos estudantis expressivos e de esquerda que se contrapusessem às práticas do movimento hegemônico naquele momento. Deixem-me esclarecer: não me contrapunha, de modo geral, às pautas, mas às práticas políticas. De qualquer forma, mesmo não me engajando de fato, acompanhava e apoiava as pautas do movimento estudantil.
De qualquer modo, nas conversas com os amigos são apresentadas ideias, opções e saídas... A gente ouve tudo, assimila, mas certas coisas precisam de um amadurecimento lento...
Já estava no mestrado, e por ocasião de um evento, estava em São Paulo. Chovia desde cedo naquela manhã. Nisso, estava a uns 200m da prefeitura da capital, sobre um viaduto, próximo à marquise de uma grande loja, em que uns quantos mendigos – homens, mulheres, crianças e idosos – abrigavam-se da chuva. Pude ouvir o diálogo em que um policial informava a uma mulher que todos eles deveriam sair dali, para que a loja pudesse abrir. A mulher (com duas crianças em volta e uma no colo) então responde que eles não teriam problema algum em sair dali, e questionava: “mas para onde a gente vai?” Sobre o viaduto, dava para enxergar as telas recém colocadas pela prefeitura de São Paulo para impedir que mendigos se abrigassem ali.
“Mas para onde a gente vai?” – a pergunta me ressoava na cabeça. Já não era mais o mesmo depois dessa cena. E se fosse comigo? Essa era a segunda pergunta que ressoava na minha cabeça... Afinal, as oportunidades que tive e pude aproveitar foram, em grande parte, por sorte. De mesmo modo que eu pude nascer no seio de uma família que pode me oportunizar certas condições, há aqueles que nasceram sem acesso a um mínimo dessas oportunidades. E quando o meu filhote nasceu... Aí eu percebi mesmo que eu não poderia me contentar com as coisas do jeito que são. Que, se eu pudesse contribuir para que houvesse uma universalização de oportunidades, eu iria me engajar. Não apenas para oportunizar um futuro melhor para o meu filho, mas para que o mundo ofereça condições mais humanas para todos os nossos filhos.
Como ser feliz sozinho? Como ser feliz vendo miséria e descaso por todos os lados? Se, por algum acaso, não sou eu e minha família passando por necessidades, poderia (e poderá) por algum acaso ser eu ou algum dos meus necessitando da mão do Estado, como há tantas e tantas famílias que pelos mais variados motivos são postas à margem pelas leis do capital. Se eu puder colaborar para o fortalecimento de um Estado que contribua para a construção do socialismo e para o protagonismo popular, estarei me engajando por essa luta.
Durante meu ensino médio em Osório, gostaria de ter me envolvido mais na política estudantil. Porém, a falta de acesso à informação limitava-me. Ainda assim, com alguns amigos, conseguimos tornar viável o plebiscito contra a ALCA no município em 2002!
A grande expectativa que criei pela atuação da política estudantil na universidade foi frustrada ao ter as minhas primeiras impressões na UFSM. Eu, com 17 anos, imaginava que a política estudantil poderia propor novos métodos de fazer política, e não apenas reproduzir o que já se fazia na política institucional. Possivelmente essa leitura que fiz nas minhas primeiras impressões tenha se dado por não haver outros movimentos estudantis expressivos e de esquerda que se contrapusessem às práticas do movimento hegemônico naquele momento. Deixem-me esclarecer: não me contrapunha, de modo geral, às pautas, mas às práticas políticas. De qualquer forma, mesmo não me engajando de fato, acompanhava e apoiava as pautas do movimento estudantil.
De qualquer modo, nas conversas com os amigos são apresentadas ideias, opções e saídas... A gente ouve tudo, assimila, mas certas coisas precisam de um amadurecimento lento...
Movimento promovido pela UNE e UBES em 2007 |
“Mas para onde a gente vai?” – a pergunta me ressoava na cabeça. Já não era mais o mesmo depois dessa cena. E se fosse comigo? Essa era a segunda pergunta que ressoava na minha cabeça... Afinal, as oportunidades que tive e pude aproveitar foram, em grande parte, por sorte. De mesmo modo que eu pude nascer no seio de uma família que pode me oportunizar certas condições, há aqueles que nasceram sem acesso a um mínimo dessas oportunidades. E quando o meu filhote nasceu... Aí eu percebi mesmo que eu não poderia me contentar com as coisas do jeito que são. Que, se eu pudesse contribuir para que houvesse uma universalização de oportunidades, eu iria me engajar. Não apenas para oportunizar um futuro melhor para o meu filho, mas para que o mundo ofereça condições mais humanas para todos os nossos filhos.
Como ser feliz sozinho? Como ser feliz vendo miséria e descaso por todos os lados? Se, por algum acaso, não sou eu e minha família passando por necessidades, poderia (e poderá) por algum acaso ser eu ou algum dos meus necessitando da mão do Estado, como há tantas e tantas famílias que pelos mais variados motivos são postas à margem pelas leis do capital. Se eu puder colaborar para o fortalecimento de um Estado que contribua para a construção do socialismo e para o protagonismo popular, estarei me engajando por essa luta.
O presente é tão grande, não nos afastemos. Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas... (Drummond) |
Por isso pego as bandeiras e dou a “cara à tapa”. Porque me vejo como parte de um ideal maior, em nome de um projeto concreto que possa melhorar de fato a vida das pessoas que precisam, mesmo reconhecendo as contradições que possa haver. Como dizia o Raulzito, "Sonho que se sonha só é só um sonho que se sonha só; mas sonho que se sonha junto é realidade"!
O processo democrático não termina com o voto. Pelo contrário, é pelo direito ao voto que o processo democrático começa, e é pelo dever ao voto que não podemos nos isentar das responsabilidades que existem através do processo democrático.
2 comentários:
Pablo!!!!
Gostaria de dividir contigo e demais leitores a tamanha emoção que tive ao ler este texto. Muito emocionante, muito profundo. Qualifico assim, pois já a alguns anos acompanho a militância deste amigo.As posições e questionamentos do texto refletem com simplicidade na exposição e ao mesmo tempo grande riqueza no conteúdo. Quantos "Pablos da vida" estão por aí questionando a realidade? Muitas vezes a pobreza política que no geral assola nossa sociedade afasta inúmeros jovens do encantanto pelas lutas por mudanças. Felizmente, com este Pablo foi diferente. Por que me engajar? Sigamos todos nos questionamentos que ajudam operar na contínua mudança, afinal, Por que não engajar-se?
abraço
Querido amigo Pablo
Pude acompanhar o amadurecimento das reflexões deste amigo e este texto de certa forma registra o salto qualitativo de toda essa caminhada de maturação que começou lá no ativismo no Alternativa, nos nossos papos na CEU II, quando vivíamos às turras com os meninos da Articulação...
Você amadureceu suas convicções, assim como nós todos amadurecemos também. Mauricio, Luciele, eu, Taise, Anita. E o melhor de tudo é que não nos afastamos muito. O melhor de tudo é que outros foram se agregando também. Outros já estavam por aí, mas alguns chegaram agora, como o anjinho Miguel...
O saldo subjetivo desta campanha mais gratificante é este texto. Acho que conseguimos surfar na maré turbulenta de denúncias, calúnias, mentiras, e ela não nos engoliu. Conseguimos visualizar o que é mais importante, apesar de tudo. Sem medo de errar, inevitavelmente errando, mas nunca sozinho, nunca pensando só em si mesmo.
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BLOG DO BERNED
literatura, política, cultura e comportamento.
seja em osório, em santa maria ou em liechtenstein.
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