Movido pela curiosidade e vacinado contra a manipulação midiática, quis saber a fonte. Só aí fui descobrir que as aspas eram a afirmação de Tarso Teixeira, vice-presidente da FARSUL e presidente do Sindicato Rural de São Gabriel. E a fonte da afirmação? O "serviço de inteligência" dos produtores rurais [sic]. Ou seja, eles criam um órgão que está apto a difundir verdades ou mentiras de acordo com o seu próprio interesse. É o cúmulo do cúmulo das nossas instituições baseadas na conservação do poder. Seria cômico.
Logo em seguida, enquanto tomávamos café, reparei que realmente, à certa distância, era visível apenas a afirmação em destaque completamente descontextualizada no referido jornal. Eis o velho artifício de fazer com que a opinião ou a inferência se passe por factual. As pessoas vão olhar essa manchete descontextualizada e o jornal e seus patrocinadores vão conseguir convencer a "opinião pública".
Não demorou outra: logo entrou um homem com a sua esposa, um típico "cidadão de bem" que, depois de sua caminhada vespertina, foi comprar pão. Olhou a "manchete" e exclamou algo do tipo: "Mas olha só! São bandidos mesmo! A Brigada tá certa, tem que matar todos mesmo!".
Sabem, o que realmente me preocupou foi o fato do cidadão não se interessar pela fonte da afirmação. Ingenuamente aceitou a manchete. Típico dos movimentos "Fora Sarney" e "Cansei", movimentos nacionais de indignação durante o intervalo da novela. É a inocência de nem conferir a fonte da informação, e a malícia de quem sabe se aproveitar disso.
Daí a necessidade cada vez maior da democratização da mídia, que hoje é empresarial e responde aos interesses de meia dúzia de famílias. A conferência de comunicação é uma necessidade para que seja reconsiderado o papel da mídia e os seus limites. Quando falo de limites não me refiro a censura, mas à utilização da liberdade de imprensa como liberdade para cometer crimes. Afinal, calúnia, injúria, difamação e ameaça ainda são crimes pelo nosso já defasado código penal.
Não temos meios impressos de "esquerda" diários. E qual a necessidade e função de meios diários de comunicação engajados em um projeto de esquerda? E como diferenciar o discurso de esquerda do discurso consolidado há 200 anos pela mídia que surge com a ascensão da burguesia e servindo aos seus interesses até hoje?
É explícita a visão dada por quem está diametralmente oposto no campo de disputas.
Em outras palavras: a metodologia de "reportagem" foi "pras cucuias")
Eu, que me considero um grande defensor das TVs públicas, vejo uma enorme contradição não termos sinal aberto para elas. Para se assistir a TV Senado, por exemplo, temos que ter Sky ou antena parabólica! Isso não é democracia de informação: só vou saber o que acontece no legislativo pelo privilégio que o JN dá ao tucanato e aos demos? A TVE e a TV Brasil são avanços. Mas é necessário avançar no debate sobre as concessões do governo ao mass media. E ampliar o acesso das TVs públicas, e comunitárias, que têm ótimas programações.
Lembro que comentei algo do tipo com o Prof. Denílson ano passado, durante a sua campanha para vereador em Osório. É necessário o contraponto ideológico. Os meios hegemônicos de informação hoje disputam entre si os lucros de mercado. Não há embate de idéias. Afinal, em jornal de cidade pequena, o que tiver destaque além da página policial e da coluna social é lucro. As linhas editoriais tendem a ser iguais, conforme a ideologia pequeno-burguesa. Mais do mesmo.