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14 de agosto de 2009

Soberba disfarçada de erudição


Essa tomei conhecimento através do Cloaca News. E diz respeito aos pseudojornalistas dando pitacos de pseudointelectuais. Afinal, é o que justifica encontrarmos na famigerada página 10 do folhetim ZeroHora a seguinte notinha da infeliz colunista do pseudoinformativo:

Erudição
Cotado para alto cargo na CPI da Corrupção abusa de expressões como “seje” e “houveram denúncias”.
E não é do partido do presidente Lula.
Aliás, o petista José Dirceu ainda não consegue dizer "problema".

Que prazer sádico será esse em se autopromover em virtude do triste hábito de menosprezar os equívocos linguísticos alheios? Pouco importaria a quem especificamente ela está se referindo. No entanto, uma notinha "banal" dessas em uma página "política" apenas evidencia a tensão e a luta social de interesses. O folhetim da Terra do Nunca (último baluarte do governo Yeda) adota explicitamente a mesma estratégia que a governadora usa para sua defesa: a desqualificação do outro. O presidente Lula é pintado como analfabeto até agora: no entanto, é o uso simples que o presidente faz da linguagem que comunica. Talvez isso explique os altos índices de popularidade? De nada adiantaria se não houvesse resultados práticos; mas o âmbito linguístico com certeza deve ajudar.

Cabe nesse infeliz comentário da senhora Rosane uma intervenção nossa a respeito de quem deve ocupar cargos públicos. Seguidamente ouço gente opinando em uma formação em "Administração de Empresas" para quem ocupe cargos públicos. De qualquer forma, qualquer formação pós-escolar seria garantia de "erudição" e sucesso administrativo.

Primeiro que um Estado não é uma Empresa. A finalidade primeira de uma empresa é o lucro do patrão. E qual a finalidade primeira de um governo de um município, um estado ou um país, se não o bem-estar da população? Portanto, a formação que um político deve ter é a formação política: é participar ativamente da vida pública do lugar. Já deveria ter passado o estilo da monarquia, em que a corte vivia da plebe mas não se misturava com ela. Hoje, pela idéia de república democrática, deveria ser essa "plebe" no poder. Mas não está. Por quê?

Nossos representantes deveriam ser pessoas com as quais nos identificássemos. Mas alguém aqui se identifica, por exemplo, com a conta bancária do pai do deputado "Mano Changes"? Ou com a do Simon? Sabemos o que pensam sobre a sociedade? Eles estão lá para quê, afinal? Para quem? Isso começa na eleição para vereador: deveríamos votar em quem representa segmentos sociais e projetos políticos nos quais nos identificamos. Mas não nos identificamos com nada? Não gostamos de política? Então, quer dizer que deixamos as coisas andarem sozinhas até o ponto em que a imprensa noticia falta de ética? Sim, a imprensa, porque se dependesse de esforço próprio para apurar informações...

Eis um dos motivos pelo qual o modelo de sociedade que temos hoje, vindo do modelo da revolução francesa, merece mudar. Ainda não vivemos uma democracia plena, ainda não somos uma pátria livre e totalmente soberana. Essas mudanças poderão vir por diferentes maneiras. Mas elas só poderão se efetivar a partir do momento em que nos delegarmos os papéis políticos que - por inocência ou apatia - delegamos aos nossos algozes. De fato, não adianta apenas mudarmos as pessoas que lá estão: é necessária uma mudança pontual no sistema político. Mudança essa que não está alheia à visão global de sociedade que temos (ainda que não se tenha parado para pensar nisso, cada um de nós tem uma visão de sociedade: poderá chamar isso de ideologia). Já paramos para pensar a quem nos deixamos convencer um ou outro modelo de sociedade? Isso não vem para nós direto da política constitucional não... Isso entra em nossa casa pela telinha da TV também nas mais inocentes novelas e se dissemina em nossos círculos sociais.

Voltando: quem é o "erudito"? A quem interessa a soberba de mostrar "erudição"? Delegamos maior confiança a quem se autopromove, não é? Eis a sociedade do espetáculo na qual nos inserimos...

Um comentário:

Anônimo disse...

Legal, Berned. E o pior é que não são só pseudojornalistas que usam esse tipo de desqualificação como argumento. Perdi a conta de quantas vezes flagrei o uso dessa estratégia por militantes e lideranças de partidos políticos opositores à esquerda nacional. Aqui e aqui estão dois exemplos.

Isso costuma alimentar um preconceito que, no final das contas, é uma falácia: "Se Lula não domina o vernáculo, então não pode ser presidente".

Seria interessante que Rosane de Oliveira, antes de puxar orelhas alheias por conta de equívocos linguísticos, dominasse sua própria área de atuação.

Não conhecia teu trabalho. Foi uma grata descoberta.

Um abraço.

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