Violência em ruas e estradas na data instituída para conscientizar as pessoas sobre os perigos do trânsito. Liberado o trânsito no trecho da BR 101, no Litoral Norte, onde se formou uma cratera na quarta-feira. Chega ao fim o maior acervo de carros antigos do Brasil. A Justiça determinou a retirada dos veículos do museu da Ulbra, em Canoas. A morte de um integrante do MST durante a desocupação de uma fazenda na Região Central do Estado vai ser investigada pela Polícia civil e Brigada Militar. O ministério Público também vai acompanhar o caso. Os manifestantes estavam na propriedade há 10 dias. O corpo do agricultor morto vai ser enterrado neste sábado em Canguçu. Quinze espingardas calibre 12, que estavam com os PMs e foram apreendidas vão passar por perícia. Duas idosas ficaram feridas em um incêndio em Santa Maria. Sol predomina em todo o Estado nesta sexta-feira. Confirmadas mais nove mortes pela nova gripe no Estado, que passa a ter 93 casos fatais. Definidos, na Assembleia Legislativa integrantes da CPI que vai apurar supostas irregularidades no governo gaúcho. A comissão será instalada na próxima quarta-feira. Um passageiro morreu e um taxista ficou ferido esta tarde em Porto Alegre. Amanhã, em São Paulo, o Inter enfrenta o Palmeiras, líder do Campeonato Brasileiro. E o Grêmio joga domingo, às quatro da tarde, com o Atlético Mineiro no Estádio Olímpico. Uma mulher foi detida em Canoas por passar trotes à Brigada Militar.
(Resumo do RBS notícias, jornal do PIG local entre as novelas das 6 e das 7).
Um sem-terra morreu.
Olhando a TV enquanto jantam, muitos darão de ombros. Outros estão apenas com a TV ligada por costume, nem ouviram o que foi dito. Outros perguntarão: “o que eu tenho a ver com isso?”
Elton Brum da Silva, 44 anos, morreu.
Uma notícia de alguém que faleceu. Na TV, mais uma morte entre tantas. Alguém, um “silva”. Mais simbólico do que esse sobrenome, impossível. É nome do próprio Brasil.
Elton Brum da Silva, trabalhador rural sem-terra foi morto pelas costas. Elton, não o conheci. Também nunca havia ouvido falar nele. Mas o Silva sim. O Silva é um entre tantos brasileiros que sonham dias melhores. Que querem trabalhar e se verem incluídos no corpo social do país. Que querem tudo de bom pra todo mundo. Que deve ter alguém que o ame, e alguém que foi amado por ele. Talvez tenha filhos, ou sobrinhos. Vizinhos e amigos. Talvez ainda tivesse pais, tivesse uma família por quem zelar. Com certeza tinha companheiros de luta. Com certeza compartilhava sonhos com as pessoas que o cercavam.
Mais um Silva morreu. Foi morto. Pela equívoca ação policial. Pelos equívocos governos. Foi condenado à morte o trabalhador privado de terra que questionava as regras do jogo. Que questionava o direito de uns sobre a propriedade privada. Um Silva foi morto hoje pelo sonho de poder ter uma casa e um trabalho. A morte de um Silva hoje expõe as veias abertas de um modelo de sociedade que chega aos seus limites.
O exercício de alteridade pode ser resumido como nos colocarmos no lugar do outro. Pois bem: estamos sentados frente ao computador agora lendo isso. Podemos pensar sobre que teto moramos agora. Sobre a situação econômica da nossa família. A nossa fonte de renda. A nossa formação intelectual. Os nossos hábitos. Nossas manias. Nossos vícios. O que nos dá prazer. Sobre nossos pais e nossos filhos. Sobre o que queremos do futuro. As expectativas, as esperanças que nos movem. Podemos parar agora e pensar em todo o universo que gira nesse instante ao redor do nosso umbigo. Vamos pensar em todas as pessoas e toda a história da nossa vida que fazem com que nos constituamos como esse sujeito que nesse instante está lendo esse texto. Agora, vamos conseguir nos colocar no lugar de nosso vizinho? No lugar do próximo? Somos capazes de imaginar os sonhos e expectativas interrompidas de modo estúpido? Podemos imaginar o que move uma pessoa a viver de acampamento em acampamento, em conflito direto e constante com o sistema? Podemos comensurar o que é ter homens, mulheres e crianças sendo retiradas de uma terra de manhã cedo pela polícia militar? Pessoas que já são feridas na dignidade por não estarem incluídas no sistema, e ainda assim lutam contra esse sistema, e acabam sendo mais humilhadas por esse mesmo sistema. Podemos nos colocar no lugar de um Silva que foi assassinado? Podemos nos colocar no lugar do Elton, de 44 anos, integrante do movimento de trabalhadores rurais sem-terra que foi assassinado pelas costas pela polícia em uma ação de reintegração de posse movida por um latifundiário com a bunda cheia de dinheiro e seu advogadozinho e aceita pela (in)justiça?
Hoje somos levados a agir como se fôssemos muitos: reivindicamos e agimos como consumidores, como clientes, como eleitores, como inquilinos, contribuintes ou pacientes; como estudantes, trabalhadores e/ou aposentados. Talvez nos falte uma unidade: pensar como cidadãos. Pensar que temos responsabilidade pelo sistema que nos cerca em sua totalidade. Afinal, como seria se em vez de reivindicarmos nossos direitos como consumidores, agíssemos como consumidores cidadãos? Como estudantes cidadãos? Trabalhadores cidadãos? Patrões cidadãos? Eleitores cidadãos?
Percebe a sutil diferença?
Hoje um Silva morreu. Elton da Silva foi assassinado.
Por quem?
Quem disparou o tiro deve ser responsabilizado. Quem permitiu a ação policial com uso de armas de fogo merece ser responsabilizado. Quem planejou a ação policial que permitisse a morte de quem quer que fosse, merece ser responsabilizado. Quem adota políticas de repressão análogas às ações da ditadura (que eu esperava encontrar apenas em livros de história e filmes sobre o passado) também deve ser responsabilizado. A justiça que age em seu gabinete mas não calcula as consequências (ou calcula muito bem) que a suas decisões podem tomar também deve ser responsabilizada. Mas não só eles. Hoje todos nós somos também responsáveis por essa morte, por esse assassinato pelas costas, por esse ato de covardia. Por que somos nós que acabamos sustentando esse modelo de sociedade. Esse modelo de fragmentação, de individualismo, de seleção, de hipocrisia. É nossa obrigação fazer um exercício de alteridade e, consequentemente, um balanço de nossa vida. A pessoa que mais se declara inocente é conivente e omissa com a morte dos Silva, a morte de vários brasileiros que como Elton, foram assassinados com um ato de covardia pelo sistema que nós sustentamos. E o que fazer?
A notícia da morte de Elton Brum da Silva foi notíciada na TV depois da novela que se passa no interior. Antes se falou de carros antigos, depois se falou do Inter e do Grêmio. Depois deu a novela do macaco. E, se não agirmos em torno da responsabilidade que temos sobre o universo que nos cerca (que começa – mas não termina – na hora do voto), volta tudo a ser como é, como alguns querem que seja. E daí depois tem a novela das 8.
Um sem-terra morreu.
Olhando a TV enquanto jantam, muitos darão de ombros. Outros estão apenas com a TV ligada por costume, nem ouviram o que foi dito. Outros perguntarão: “o que eu tenho a ver com isso?”
Elton Brum da Silva, 44 anos, morreu.
Uma notícia de alguém que faleceu. Na TV, mais uma morte entre tantas. Alguém, um “silva”. Mais simbólico do que esse sobrenome, impossível. É nome do próprio Brasil.
Elton Brum da Silva, trabalhador rural sem-terra foi morto pelas costas. Elton, não o conheci. Também nunca havia ouvido falar nele. Mas o Silva sim. O Silva é um entre tantos brasileiros que sonham dias melhores. Que querem trabalhar e se verem incluídos no corpo social do país. Que querem tudo de bom pra todo mundo. Que deve ter alguém que o ame, e alguém que foi amado por ele. Talvez tenha filhos, ou sobrinhos. Vizinhos e amigos. Talvez ainda tivesse pais, tivesse uma família por quem zelar. Com certeza tinha companheiros de luta. Com certeza compartilhava sonhos com as pessoas que o cercavam.
Mais um Silva morreu. Foi morto. Pela equívoca ação policial. Pelos equívocos governos. Foi condenado à morte o trabalhador privado de terra que questionava as regras do jogo. Que questionava o direito de uns sobre a propriedade privada. Um Silva foi morto hoje pelo sonho de poder ter uma casa e um trabalho. A morte de um Silva hoje expõe as veias abertas de um modelo de sociedade que chega aos seus limites.
O exercício de alteridade pode ser resumido como nos colocarmos no lugar do outro. Pois bem: estamos sentados frente ao computador agora lendo isso. Podemos pensar sobre que teto moramos agora. Sobre a situação econômica da nossa família. A nossa fonte de renda. A nossa formação intelectual. Os nossos hábitos. Nossas manias. Nossos vícios. O que nos dá prazer. Sobre nossos pais e nossos filhos. Sobre o que queremos do futuro. As expectativas, as esperanças que nos movem. Podemos parar agora e pensar em todo o universo que gira nesse instante ao redor do nosso umbigo. Vamos pensar em todas as pessoas e toda a história da nossa vida que fazem com que nos constituamos como esse sujeito que nesse instante está lendo esse texto. Agora, vamos conseguir nos colocar no lugar de nosso vizinho? No lugar do próximo? Somos capazes de imaginar os sonhos e expectativas interrompidas de modo estúpido? Podemos imaginar o que move uma pessoa a viver de acampamento em acampamento, em conflito direto e constante com o sistema? Podemos comensurar o que é ter homens, mulheres e crianças sendo retiradas de uma terra de manhã cedo pela polícia militar? Pessoas que já são feridas na dignidade por não estarem incluídas no sistema, e ainda assim lutam contra esse sistema, e acabam sendo mais humilhadas por esse mesmo sistema. Podemos nos colocar no lugar de um Silva que foi assassinado? Podemos nos colocar no lugar do Elton, de 44 anos, integrante do movimento de trabalhadores rurais sem-terra que foi assassinado pelas costas pela polícia em uma ação de reintegração de posse movida por um latifundiário com a bunda cheia de dinheiro e seu advogadozinho e aceita pela (in)justiça?
Hoje somos levados a agir como se fôssemos muitos: reivindicamos e agimos como consumidores, como clientes, como eleitores, como inquilinos, contribuintes ou pacientes; como estudantes, trabalhadores e/ou aposentados. Talvez nos falte uma unidade: pensar como cidadãos. Pensar que temos responsabilidade pelo sistema que nos cerca em sua totalidade. Afinal, como seria se em vez de reivindicarmos nossos direitos como consumidores, agíssemos como consumidores cidadãos? Como estudantes cidadãos? Trabalhadores cidadãos? Patrões cidadãos? Eleitores cidadãos?
Percebe a sutil diferença?
Hoje um Silva morreu. Elton da Silva foi assassinado.
Por quem?
Quem disparou o tiro deve ser responsabilizado. Quem permitiu a ação policial com uso de armas de fogo merece ser responsabilizado. Quem planejou a ação policial que permitisse a morte de quem quer que fosse, merece ser responsabilizado. Quem adota políticas de repressão análogas às ações da ditadura (que eu esperava encontrar apenas em livros de história e filmes sobre o passado) também deve ser responsabilizado. A justiça que age em seu gabinete mas não calcula as consequências (ou calcula muito bem) que a suas decisões podem tomar também deve ser responsabilizada. Mas não só eles. Hoje todos nós somos também responsáveis por essa morte, por esse assassinato pelas costas, por esse ato de covardia. Por que somos nós que acabamos sustentando esse modelo de sociedade. Esse modelo de fragmentação, de individualismo, de seleção, de hipocrisia. É nossa obrigação fazer um exercício de alteridade e, consequentemente, um balanço de nossa vida. A pessoa que mais se declara inocente é conivente e omissa com a morte dos Silva, a morte de vários brasileiros que como Elton, foram assassinados com um ato de covardia pelo sistema que nós sustentamos. E o que fazer?
A notícia da morte de Elton Brum da Silva foi notíciada na TV depois da novela que se passa no interior. Antes se falou de carros antigos, depois se falou do Inter e do Grêmio. Depois deu a novela do macaco. E, se não agirmos em torno da responsabilidade que temos sobre o universo que nos cerca (que começa – mas não termina – na hora do voto), volta tudo a ser como é, como alguns querem que seja. E daí depois tem a novela das 8.
Um comentário:
Excelente, Berned.
Um abraço.
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