Para quem gosta de boa literatura, uma ótima pedida é o "Ensaio sobre a cegueira" (1995), de José Saramago. Devo ter lido há uns dois ou três anos, sugerido pelo Maico. Como outras obras de Saramago, parte de uma hipótese: "E se as pessoas de um país inteiro ficassem cegas, como seria?". Trata-se de uma narrativa que, ao considerar inicialmente essa possibilidade (supra-real?) utiliza-se de uma descrição minuciosa dos desdobramentos da cegueira epidêmica. (Subjetividades à parte, a proposta ficcional de Ensaio me lembra as pinturas de René Magritte. É de um realismo perturbador, irreal, sur-real). O que vemos, através da leitura, são os olhos da mulher do médico, a única personagem que não é privada da visão, e que está condenada a ver e descrever para nós, leitores, até que limites podem ir a degradação do ser humano. Seus olhos são a câmera a registrar tudo aquilo que as personagens a sua volta vivem mas não podem ver, e vê além do que se poderia ver em condições "normais". As sociedades metropolitanas, impossibilitadas de conviverem sem as facilidades da vida moderna, entram em colapso e retomam uma violência primitiva. O caos se instaura. E é nesse ambiente fétido (foi a grande impressão que o livro me deu) que os protagonistas têm a chance de redescobrirem que a humanidade está além da perda de algum dos sentidos.
"O romance aborda a emergência de uma inédita praga de uma repentina cegueira abatendo uma cidade não identificada, inexplicável e incurável. Tal "cegueira branca" — assim nomeada pois as pessoas infectadas percebem em seus olhos nada mais que uma superfície leitosa — manifesta-se primeiramente em um homem sentado no trânsito e, lentamente, se espalha pelo país. Aos poucos, todos acabam cegos e reduzidos, pela obscuridade, a meros seres lutando por seus instintos. À medida que os afectados pela epidemia são colocados em quarentena, em condições desumanas, e os serviços estatais começam a falhar, a trama segue a mulher de um médico, a única pessoa que não é afectada pela doença que cega todos os outros" (Wk).
E já está sendo lançado o filme Blindness, inspirado no romance de Saramago. O filme é dirigido por Fernando Meirelles, que já carrega a bagagem de Cidade de Deus e O Jardineiro Fiel. Diz-se que até o próprio Saramago gostou do que viu (confira aqui). Meirelles, ao que parece, buscou ser o mais fiel possível ao texto - o que é maravilhoso. Vieram críticas negativas (clique aqui), mas nada que não se esperasse de quem produz filmes (na sua maioria) medíocres. O cinema "além-panelinha- EUA/UK" mostra que pode: e Meirelles, na sua recusa à Hollywood, parece mostrar que não quer se render aos encantos e as facilidades do american dream, mas se aventurar na produção de cinema de qualidade.
Ensaio sobre a Cegueira
Blindness (Canadá/Japão/Brasil 2008)
Estréia: 19 de setembro de 2008
Direção: Fernando Meirelles
Roteiro: Don McKellar
Baseado na Obra de: José Saramago (Ensaio sobre a Cegueira)
Elenco: Julianne Moore (Mulher do Médico), Mark Ruffalo (Médico), Don McKellar (Ladrão), Yusuke Iseya (Primeiro homem cego), Yoshino Kimura (Mulher do primeiro homem cego), Sandra Oh (Ministra da Saúde), Danny Glover (Velho da venda preta), Alice Braga (Menina dos óculos escuros), Gael García Bernal (Rei da Camarata 3), Douglas Silva (Pedestre)
Duração: 117 min.
Gênero: Drama
Um comentário:
Interessante, my friend. Ainda não olhei, mas estou com ganas de. Além de tudo, A Julianne Moore é ruiva e simpática...hehe
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