Em recente entrevista ao jornal Folha de São Paulo (10/2009), o presidente Lula fez uma afirmação de que o papel da imprensa é o de informar, não o de fiscalizar. Sua referência é aos próprios órgãos de fiscalização governamentais e, em outra instância, aos poderes legislativos e judiciários.
Ao passo que o poder político é dado pelo povo em sistema de representatividade (considerando a sua fragilidade), e as instâncias jurídicas e policiais passam pela admissão pública (que está em jogo o perfil de profissional que a res publica precisa), a imprensa está livre dessa legitimação pública, exceto pelo valor de mercado. Ou seja: ainda que possa haver distorções, em princípio no estado democrático os três poderes passam (direta ou indiretamente) por uma legitimação pública; o chamado quarto poder, a mídia, não. E ela está na nossa vida, nos ditando modelos e opiniões, ainda que não queiramos pagar por ela: basta ligar a televisão no horário do almoço ou do jantar.
E quem dá essa legitimação de poder à imprensa? Não me refiro aos espectadores, essa massa bovina e acrítica que somos levados a ser; mas a quem a financia. Lendo a ótima entrevista do delegado Protógenes Queirós à Carta Capital (dez/2008), ao se referir ao caso Daniel Dantas, ele cita Marx no seguinte comentário:
Daniel Dantas representa um poder ainda invisível. É visível à medida que começamos a aprofundar a investigação. Ou até num debate público, aí as pessoas começam a se revelar. Marx dizia “os quadros da sociedade começam a se revelar através de um processo público em que as pessoas se posicionam”. Alguns com um ideal, outros com outro ideal. Às vezes me dizem “estão criticando a Satiagraha, a verdade é que foi um sucesso, pautou-se pela lei, pelas regras do direito penal brasileiro, pela Lei de Crimes Contra o Sistema Financeiro Brasileiro. Tanto que vamos ter uma condenação em breve. Significa que o resultado das investigações foi legal.
Posicionamento: é ao se posicionar (ou não!) que se desvelam os jogos de interesse. Ideologia: não é restrita à posição explicitamente política, mas subordina o modo como que as pessoas vêem o mundo. Ou seja, nossa ideologia se revela perante nossa posição em relação ao mundo. Mas os interesses podem vir a ser reais ou manipulados (agora sim, me refiro aos espectadores, essa massa bovina e acrítica que somos levados a ser). Talvez esteja aí o real sentido da afirmação de que a religião, para Marx, é o ópio do povo. Talvez fosse no contexto e história européias; talvez, hoje, século XXI, o ópio do povo sejam os meios de comunicação, informação e entretenimento de massa. Será que não?
Acima, um vídeo no mínimo, interessante: um espaço de debate entre jornalistas globais. Ao invés de dar notícias com ares de imparcialidade, em que fica claro o desejo de passar por factual o que é de natureza opinativa, eles estão colocando as cartas na mesa, ou seja, revelando a sua posição. Ideológica.
Um comentário:
Olá Pablo!
Que bom estar entre os blogs amigos! Quero que saibas que sou leitora assídua deste teu espaço. É muito bom poder ter contato com pessoas que tenham opinião formada. Continue com estes textos maravilhosos, que fazem parte da minha cota de leitura diária.
Visitei o blog da Taise, que bom teres dado este incentivo a ela.
Um grande abraço e até mais!
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